Analista-Tributário se recupera de acidente em Foz do Iguaçu/PR

Analista-Tributário se recupera de acidente em Foz do Iguaçu/PR


Martines teve 40% do corpo queimado, perdeu nove dentes, parte da audição dos dois ouvidos e quase perdeu as orelhas e as mãos
A explosão de um contêiner carregado com 22 mil quilos de isqueiros feriu três pessoas durante procedimento de trânsito aduaneiro, em 16 de maio do ano passado, na Área de Controle Integrado (ACI), em Ciudad Del Este, no lado paraguaio da Ponte Internacional da Amizade. O Analista-Tributário da Receita Federal do Brasil Celso Martines, de Foz do Iguaçu/PR, foi o mais atingido pelas chamas e ficou em estado gravíssimo de saúde. Martines teve 40% do corpo queimado. As queimaduras de 2º e 3º graus atingiram todo o seu corpo, principalmente os braços, o tórax e a cabeça.








“...falta estrutura, condições de trabalho, treinamentos adequados e medidas de segurança.”

Os outros dois feridos pela tragédia foram o representante da transportadora do contêiner e um carregador paraguaio. A carga explodiu e arremessou os três a cerca de 10 metros de distância. Martines e o representante da transportadora foram socorridos pelos bombeiros e levados para o Hospital Costa Cavalcanti, em Foz do Iguaçu/PR. Já a vítima paraguaia foi encaminhada para um hospital da Ciudad Del Este. Como o estado de saúde de Martines era muito delicado, ele foi transferido em seguida para o Hospital Pilar, em Curitiba/PR. No momento da transferência, o Analista-Tributário tinha apenas 20% de chance de sobrevivência. “Se tivesse ficado em Foz do Iguaçu teria morrido”, acredita Martines.

Após oito meses do acidente de trabalho e ainda em recuperação, Martines afirma que lembra somente de alguns minutos antes da explosão. “Lembro da abertura do contêiner e quando o transportador começou a passar as caixas para a análise. Fui acordar uns dez dias depois na UTI”, disse. Ele ficou internado 33 dias no Hospital Pilar, 22 deles foram na UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).

Além das queimaduras, o colega perdeu nove dentes, parte da audição dos dois ouvidos e quase perdeu as orelhas e as mãos. “Não sei especificar bem a gravidade da perda da audição, mas não consigo mais ouvir determinados sons”, informou. Martines também ficou com uma sequela no braço esquerdo e deverá passar por uma cirurgia nos ligamentos do braço. Por conta das queimaduras em todo o corpo e da lenta recuperação terá ainda que usar uma malha especial durante dois anos.

Os efeitos psicológicos do desastre não são menos significativos que os físicos. Martines terá que se submeter à psicoterapia para tratamento de transtorno de estresse pós-traumático. “Estou com medo até de elevador. Ainda não consegui ir às sessões de terapia, mas o tratamento psiquiátrico vem sendo feito desde o hospital”, comentou. O Analista-Tributário está fazendo uso de dois medicamentos, um ansiolítico e outro antidepressivo. “Nunca precisei fazer uso desse tipo de medicamento, mas é o que está me auxiliando”, confessa.








“Percebi que Deus cuida das criancinhas e dos aduaneiros porque esse tipo de acidente poderia ocorrer mais vezes”

Após passar por um trauma dessa magnitude, ele afirma que começou a restabelecer a sua vida aos poucos. Casado e pai de dois filhos, Martines conta que está sentindo necessidade de se isolar para poder recomeçar. “Essa situação de quase morrer é muito dura, só passando para saber. Constatei que a vida realmente é muito passageira. Você pode sair para trabalhar e não voltar mais. O tratamento de queimaduras também é muito sofrido, muito demorado. Percebi que Deus cuida das criancinhas e dos aduaneiros porque esse tipo de acidente poderia ocorrer mais vezes”, reflete.

Com 50 anos de idade, 22 deles dedicados à área de fiscalização da Receita Federal do Brasil, Celso Martines destaca que falta estrutura, condições de trabalho, treinamentos adequados e medidas de segurança. Mas mesmo em condições precárias, Analistas-Tributários que atuam em portos e pontos de fronteira se esforçam diariamente para realizar um bom trabalho, nem que para isso tenham que colocar em risco a própria vida. O Analista-Tributário diz que pensa em voltar a trabalhar em breve, mas destaca que tem receio de voltar para a área de fiscalização. “Sempre temi que alguma coisa assim pudesse acontecer. Já havia comentado com vários colegas”, afirma.

Descaso da Receita Federal
Apesar de configurar “acidente em serviço o dano físico ou mental sofrido pelo servidor, que se relacione, mediata ou imediatamente, com as atribuições do cargo exercido”, conforme o art. 212 da Lei 8.112/90, o Analista-Tributário destacou a falta de empenho e amparo da Receita Federal do Brasil no acontecimento. Celso Martines informa que recebeu apoio somente do Sindireceita e dos amigos mais próximos. “Trabalho há muitos anos na Receita Federal, o fato foi caracterizado como acidente de trabalho, e isso é responsabilidade deles, mas não recebi nada da administração. Pedi ressarcimento ao Ministério da Fazenda em julho de 2008, porém o pedido está parado, não obtive resposta até o momento”, desabafa. De acordo com o Analista-Tributário, para cobrir os gastos com implantes dentários e parte do tratamento psiquiátrico, foi necessário fazer empréstimos bancários. Próximo ao final do ano passado, ele ainda não havia recebido o ressarcimento da administração e disse que teria de fazer novo empréstimo para manter o tratamento.

Outros acidentes com explosões
O acidente que envolveu o Analista-Tributário foi o terceiro episódio de explosões de isqueiros apenas no ano de 2008. No dia 24 de fevereiro, um veículo Siena carregado com 32.250 isqueiros também explodiu dentro do pátio da Delegacia da Receita Federal de Foz do Iguaçu/PR. Com a explosão, a lataria e a parte interna do veículo ficaram danificadas.

No mesmo dia, pequenas explosões foram notadas em outro veículo, um Corsa carregado com 20 mil isqueiros. Os bombeiros conseguiram conter um incêndio em escala maior. “Esta é a terceira explosão dessa natureza só no ano passado. As outras duas foram em escala menor porque ocorreram em veículos de passeio. Acredito que deve ser feita uma investigação para verificar a falta de segurança no trabalho de fiscalização”, ressalta o delegado sindical do Sindireceita em Foz do Iguaçu/PR Samuel Benck Filho.

Investimentos em segurança
Além de acompanhar de perto todo o tratamento e disponibilizar o apoio necessário para a recuperação da saúde do Analista-Tributário Celso Martines, o Sindireceita reuniu-se com o delegado da Receita Federal em Foz do Iguaçu Gilberto Tragancin logo após o acidente, no dia 19 de maio de 2008, para demonstrar a preocupação da categoria com as condições de trabalho na região e também para cobrar mais treinamentos e melhorias na segurança dos servidores que atuam na fiscalização. $


 

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