Confira a entrevista na íntegra.

Amanhã a Diretoria Executiva Nacional continua em campo para apresentar ao novo governo e administração as relevantes questões do profissional Técnico da Receita Federal. Às 11:30 horas o SINDTTEN será recebido pelo Secretário Executivo Adjunto do Ministério da Fazenda, Sr. Arno Augustinho. Às 14:30 horas, a reunião será com a Coordenadora Geral de Sistematização e Aplicação da Legislação do Ministério do Planejamento Orçamento e Gestão (MPOG), Sra. Cyntia Beltrão de Souza Guerra Curado. Na pauta a nomeação dos novos concursandos, a retroatividade da lei 10.593/2002 e a aplicação da extensão da GDAT aos aposentados e pensionistas. Às 16:30 horas a DEN estará reunida com o superintendente da ASSEFAZ, José Alves da Fonseca, para tratar de assuntos relativos ao plano de saúde.

COERÊNCIA OU RADICALISMO?

A senadora petista Heloísa Helena, concedeu entrevista à revista Veja, e, apesar das tentativas de tentarem rotulá-la de radical, firmou uma imagem de coerência. Perguntada pela Veja se era contra o projeto de unificação dos regimes de aposentadoria proposto pelo governo. Como, na sua opinião, se pode resolver o rombo da Previdência, respondeu que: ?Eu tenho muita raiva quando começam com essa conversa de rombo da Previdência, porque ela esconde uma sonegação do próprio governo, que não repassa para o sistema a sua contrapartida. E ainda desvia ? de forma ilegal, imoral e oficial ? recursos que deveriam ir para lá. Essa história de rombo é uma cantilena enfadonha e mentirosa.?

A senadora Heloísa Helena já comprou briga com o colega Antonio Carlos Magalhães, chamou o ex-senador Luiz Estevão de "riquinho ordinário" e foi vista emboscando o ex-ministro José Serra em um corredor do Congresso. Agora, a mais radical das vozes petistas no Senado está pronta para enfrentar o seu próprio partido. Menina pobre nascida no interior de Alagoas (perdeu o pai quando ainda era bebê e foi criada pela mãe, costureira), 40 anos, dois filhos, dois casamentos, Heloísa Helena é uma incendiária na tribuna. Fora dela, fala manso, cultiva cactos e chama suas interlocutoras de "flor". Nesta entrevista, ela critica os rumos do governo, espicaça o ministro José Dirceu e, fiel a seu estilo, responde aos que consideram intransigência o que ela qualifica de defesa de princípios: "Comigo, é quente ou frio. Morno, eu vomito". Por duas vezes, ao falar sobre sua eventual saída do PT, a senadora chorou.

Veja ? A senhora tem criticado muitas das decisões do PT no governo. Como está a sua relação com o partido?

Heloísa Helena ? Eu fiz uma promessa de Ano-Novo que vou revelar aqui. Um amigo meu me disse: Ló, essa onda está muito grande para você, a popularidade do presidente é enorme, a mídia toda está favorável, você não pode pegar essa onda. Mergulhe e fique quieta. Eu disse: está certo, mergulho. Mas e se, nesse mergulho, eu der de cara com o tubarão branco, que é a minha consciência? Então, a minha promessa de Ano-Novo é esta: não vou mergulhar.

Veja ? Qual é a sensação de ter seu próprio partido como adversário político?

Heloísa Helena ? É muito triste, muito angustiante. Eu sei de toda a dedicação que eu tive pelo PT. Hoje é fácil andar com uma estrelinha no peito, ser neolulista e neopetista por causa da condição de popstar do presidente e do amplo apoio que a mídia está dando ao governo. Mas eu que apanhei, tive minha casa metralhada, meus dentes quebrados... Esse partido não pertence a alguns poucos que acham que podem fazer com o PT o que quiserem porque ocupam espaços importantes nas instâncias de poder.

Veja ? A senhora discutiu com o ministro José Dirceu por ocasião da aprovação da indicação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Continua rompida com ele?

Heloísa Helena ? Muitas pessoas disseram que ficaram magoadas quando ele se referiu a mim na TV como "essa moça". Então, sobre esse rapaz, que é muito qualificado, eu digo apenas que espero que ele consiga honrar a sua trajetória de vida. Agora, todo mundo no PT sabe: eu sou absolutamente fácil de ser convencida pelo argumento. Mas, no cabresto, na força, é a pior tática para tentar me convencer. E, quando a força vem sem o respaldo da estrutura partidária ou, pior, quando a instância partidária é chamada só para legitimar ação de governo, fica mais difícil ainda.

Veja ? A senhora pensa em sair do PT?

Heloísa Helena ? Vou usar toda a minha capacidade de luta e de trabalho para, entre outras coisas, ajudar o PT a recordar os nossos entusiasmados discursos de oposição ao governo Fernando Henrique. Mas eu não sou masoquista e sempre soube que ser senadora é uma condição passageira. No dia em que, para estar na política, eu precisar me sentar à mesa com ladrões tolerados, daqueles que praticam tudo o que está no Código Penal e, mesmo assim, são recebidos com sorrisos e fanfarra nos salões da high society, vou comer giz na sala de aula. Volto, feliz, a lecionar na Universidade Federal de Alagoas. Para mim, é quente ou frio. Morno, eu vomito. Além disso, a minha relação de amor e de identidade não é com a sigla. É com um projeto que, ao longo da história, foi representado por essa sigla. Quando ela não mais representar isso, por mais que eu chore abraçada com a estrela do PT, com aquilo que para mim vai ser memória, eu saio.

Veja ? Muita gente vai comemorar.

Heloísa Helena ? Eu sei disso. Até porque, do jeito que as coisas caminham, talvez eu acabe sendo para essas pessoas uma lembrança amarga. Mas partidos nascem e morrem. Às vezes, permanecem vivos do ponto de vista da legislação eleitoral, mas podem estar sepultados na sua razão de existir. Eu espero que o PT não seja em breve simplesmente uma memória histórica. Neste ano saberemos. É o ano mais importante da história do Partido dos Trabalhadores.

Veja ? Por quê?

Heloísa Helena ? É um ano em que nós vamos discutir contingenciamento, verba para política social, se vamos ou não vamos fazer o superávit que os parasitas do FMI querem. E é também o ano em que acontecerão as três principais contendas: a flexibilização da legislação trabalhista, a alteração da legislação previdenciária e a autonomia do Banco Central. E, no que diz respeito a esses três assuntos, não há concessão. De minha parte ao menos, não haverá nenhuma.

Veja ? A senhora é contra o projeto de unificação dos regimes de aposentadoria proposto pelo governo. Como, na sua opinião, se pode resolver o rombo da Previdência?

Heloísa Helena ? Eu tenho muita raiva quando começam com essa conversa de rombo da Previdência, porque ela esconde uma sonegação do próprio governo, que não repassa para o sistema a sua contrapartida. E ainda desvia ? de forma ilegal, imoral e oficial ? recursos que deveriam ir para lá. Essa história de rombo é uma cantilena enfadonha e mentirosa.

Veja ? A senhora se considera intransigente, como a classificam colegas do próprio PT?

Heloísa Helena ? Não é uma questão de intransigência nem de idéia fixa. Idéia fixa a gente só respeita em quem tem problemas de saúde mental. A questão é outra. Olhe: participamos de um plebiscito contra o pagamento da dívida externa. Aprovamos uma resolução que condena veementemente o acordo com o FMI e suas conseqüências ? e isso no Encontro Nacional, que é a instância máxima da democracia partidária. Exigimos uma CPI para identificar os banqueiros que tiveram lucros de 1 000% por causa de informações privilegiadas. Agora, como podemos deixar que pessoas que participaram desse processo dentro da estrutura do Banco Central permaneçam na direção do Banco Central? Ou nós temos a obrigação de humildemente nos desculpar perante essas pessoas que acusamos, suas famílias e a sociedade, ou nós temos a obrigação de abrir procedimentos investigatórios dentro da estrutura do governo.

Veja ? A senhora se refere a Tereza Grossi (diretora de fiscalização do Banco Central na gestão Armínio Fraga, que chegou a ser afastada do cargo por suspeita de envolvimento no escândalo do Banco Marka)?

Heloísa Helena ? Tem justificativa preservar a doutora Tereza Grossi? A dualidade inocente é uma condição da vida. Agora, a farsa a gente não pode aceitar. Ou nós estávamos fazendo vigarice política, ludibriando as pessoas quando ocupávamos a tribuna do Congresso para dizer essas coisas, e também quando pedíamos votos durante a campanha, ou nós temos de nos explicar agora. Porque o que não pode é se apropriar dos movimentos sociais para conseguir voto e depois fazer o discurso conforme o ouvinte. Isso eu não aceito e não aceitarei jamais.

Veja ? A senhora acha que Lula traiu o programa de governo?

Heloísa Helena ? Eu prefiro não responder a essa questão. Não acho justo centralizar tudo nele.

Veja ? A senhora conversou com o presidente depois da posse?

Heloísa Helena ? Não. Até entendo que, como presidente, ele esteja muito atarefado para isso. Mas não acredito que o que está acontecendo seja culpa de Lula, não é uma questão de malevolência individual. O que está havendo é uma inaceitável demonstração de fraqueza do partido, de não se apropriar de um momento tão belo para viabilizar as mudanças profundas de que o Brasil precisa e que o PT prometeu em seu programa. É muito triste dizer isso, mas eu acho que o medo venceu a esperança.

Veja ? Que tipo de reação essas críticas estão provocando?

Heloísa Helena ? Tem gente que diz que estou pregando sozinha no deserto. Eu sei que não estou. Mas, mesmo que estivesse acompanhada de mim mesma, eu estaria em boa companhia. Muita gente que gosta de mim me aconselhou a não dar esta entrevista, a parar de falar e de questionar o meu partido. Para mim, seria muito fácil ficar calminha, escondendo o que eu penso. Estaria partilhando das benesses do poder no meu Estado, indicando diretor do instituto não sei de quê.... Não só não estou como soube que andam dizendo por aí que estar numa lista de indicação da Heloísa Helena é garantia de ficar fora do governo. Eleitoralmente, isso é péssimo para mim. Porque pose e essas coisas simbólicas contam muito na política.

Veja ? E no PT também?

Heloísa Helena ? Claro. Eu falei do cinismo e da dissimulação desses que chamei de neopetistas, mas isso não é justo. Como eu poderia criticar pessoas que de forma oportunista se declaram petistas de carteirinha se, muitas vezes, você vê o poder seduzir pessoas dentro do seu próprio partido?

Veja ? Como é essa sedução?

Heloísa Helena ? O poder é terrível. A gente precisa fazer um exercício diário para não se deixar seduzir por ele. Você está no aeroporto e vai para a sala vip, é convidada para viagens internacionais, tem as estruturas de bajulação que se montam em torno de você, todas as possibilidades que se abrem por causa do seu cargo. É por isso que lá em casa eu digo para os meus filhos: não tem essa história de sala vip nem de filho de senadora. Eu moro em apartamento funcional e o sofá que está lá é público. Portanto, meus meninos não podem sapatear no sofá.

Veja ? Por que a senhora se veste sempre da mesma maneira, de calça jeans e blusa branca?

Heloísa Helena ? Não tenho nenhum preconceito contra quem anda superarrumada, com 10 quilos de maquiagem no rosto ou 3 quilos daquela toxina... Como é o nome? Botox. Acho que as pessoas devem fazer as coisas que as deixam um pouco mais felizes, assim como devem respeitar as formas de os outros se sentirem bem e felizes. No meu caso, eu me visto assim por uma questão de praticidade.

Veja ? O fato de a senhora ter ido de vestido à cerimônia de posse do presidente chamou muita atenção. Isso a incomodou?

Heloísa Helena ? Eu nem vi nada, estava viajando. Mas minha mãe comprou as revistas e me contou.

Veja ? Suas pernas foram elogiadas.

Heloísa Helena ? Então está todo mundo doido, mesmo. Tenho dunas de celulite, trilhas de estrias. Mas sei que, entre os senadores, eles dizem esse tipo de coisa para me irritar. Como eu os irrito muito, eles também gostam de me provocar: "Ah, a senadora hoje está risonha" ou "Ah, senadora, mudou a cor da roupa?". Fazem isso porque sabem que conseguem me irritar.

Veja ? E por que esse tipo de coisa a irrita?

Heloísa Helena ? Porque é tudo uma besteirada. Quando cheguei à posse de vestido, vi de longe os senadores falando. Então, cheguei logo dizendo: "Acabou a brincadeira. Não quero comentário, viu?". Aí, eles ficaram quietos.

Veja ? É verdade que a senhora ameaçou o senador José Serra com uma espátula de abrir cartas?

Heloísa Helena ? Ele falou coisas de que eu não gostei e fui conversar com ele.

Veja ? Com uma espátula na mão, senadora?

Heloísa Helena ? Se tem uma coisa que eu não suporto é gente que fica com futrica, que vem falar da minha vida pessoal. Eu não falo de ninguém e não admito que falem de mim. Ainda mais quando se trata de mentiras abjetas.

Veja ? A senhora acha que foi vítima de machismo no episódio em que foi acusada de ter votado contra a cassação do senador Luiz Estevão em razão de uma suposta relação amorosa que teria tido com ele?

Heloísa Helena ? Aquilo me deixou profundas cicatrizes na alma. O argumento utilizado ali não era só machista ? era vil, desqualificado. Quando eu leio o que tive de dizer na tribuna do plenário naquele episódio... (em discurso na tribuna, a senadora disse, entre outras coisas, que vomitava em homens como Luiz Estevão, "riquinhos e ordinários"). Mas não me arrependo. Talvez eu me arrependa é de não ter dado uns tabefes em certas pessoas.