Centrais sindicais criticam projeto de regulamentação do direito de greve em Audiência Pública no Senado

Centrais sindicais criticam projeto de regulamentação do direito de greve em Audiência Pública no Senado

Servidos públicos defendem o direito constitucional de greve Servidos públicos defendem o direito constitucional de greve


Oito centrais sindicais criticaram o texto do projeto que visa regulamentar o direito de greve no serviço público, em Audiência Pública realizada no Senado, ontem, dia 20 de fevereiro. Representantes da CUT, Força Sindical, CSP-Conlutas, CTB, UGT, CGTB, NCST e CSB opõem-se a uma série de dispositivos do texto que está sob relatoria do senador Romero Jucá (PMDB/RR). Junto ao senador de Roraima, esteve presente o deputado federal Cândido Vacarezza (PT/SP), presidente da Comissão Mista de Consolidação de Leis e de Dispositivos Constitucionais do Congresso Nacional, que convocou a Audiência Pública.


Conforme prevê a Constituição Federal no seu artigo 37, inciso VII, o direito de greve dos servidores públicos "será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica". Mais de 25 anos se passaram da promulgação da Carta Magna e a regulamentação ainda não está definida em lei. O PLS 710/2011 (http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=103493), que prevê a regulamentação do direito de greve no serviço público, é de autoria do senador Aluysio Ferreira Nunes (PSDB/SP), que não compareceu à Audiência realizada ontem.


Reivindicações dos trabalhadores


As centrais sindicais criticaram duramente as medidas que restringem a participação dos servidores públicos em movimentos grevistas, como o artigo do texto proposto por Jucá, que permitiria que, no máximo, 40% dos trabalhadores das categorias em greve tivessem o direito à paralisção e de, no máximo, 20% de grevistas em áreas essenciais, como hospitais e segurança pública.



O deputado Cândido Vacarezza (PT/SP), presidente da comissão mista que avalia a regulamentação do direito de greve do serviço público, afirma: "não há pressa" em levar a matéria ao plenário O deputado Cândido Vacarezza (PT/SP), presidente da comissão mista que avalia a regulamentação do direito de greve do serviço público, afirma: "não há pressa" em levar a matéria ao plenário


O instrumento de negociação coletiva e a regulamentação da Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que regula direitos dos servidores públicos em âmbito internacional, foram outros elementos defendidos por todos os líderes sindicais.


A representante da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Maria das Graças Costa, a primeira sindicalista a falar, foi objetiva. “A CUT não tem acordo com o conteúdo do projeto. Ele visa a proibição do direito de greve” afirmou.


O policial federal, Flávio Werneck Meneguelli, que representou a Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), protestou contra o artigo que suspende o porte de armas de servidores públicos da segurança pública, durante as greves. “Muito policiais tem preço, estão jurados de morte. Seria dar condições à criminalidade de matar policiais” explanou. O senador Romero Jucá fez questão de afirmar que esse trecho do texto não era de sua autoria. “Nunca defendi isso. Defendo que se proíba que o policial grevista vá armado às manifestações. Imaginem o que pode acontecer, num ambiente de ânimos acirrados, com os dois lados armados?” indagou ao plenário.


Criminalização aos movimentos reivindicatórios




Após crítica de sindicalista, o senador Romero Jucá (PMDB/RR) defende-se afirmando não querer criminalizar movimentos reivindicatórios Após crítica de sindicalista, o senador Romero Jucá (PMDB/RR) defende-se afirmando não querer criminalizar movimentos reivindicatórios


O representante da CSP-Conlutas, Saulo Arcangeli, afirmou que o projeto de regulamentação do direito de greve deve ser analisado no contexto de criminalização à ação dos movimentos sociais e populares, como a lei antiterrorista, cujo autor é o senador Romero Jucá (PMDB/RR). O senador rebateu a acusação, afirmando que a imprensa causou uma confusão quando publicou a matéria. “Diversas pessoas pediram leis duras para atacar os manifestantes, após a morte do cinegrafista Santiago. Esse projeto de lei visa tipificar terrorismo. O homicídio doloso já está enquadrado no Código Penal”, respondeu.


Vacarezza: “não há pressa”


 O deputado Cândido Vacarezza (PT/SP) afirmou que o texto final do projeto, que irá ao plenário, não ficará pronto em março. “Queremos prosseguir o diálogo com as centrais sindicais e também vamos ouvir o governo. Não há pressa para tomar uma decisão sem esses diálogos” assegurou.


Esse era um dos pontos cruciais para os sindicalistas, que foi garantido por Vacarezza e também por Jucá. “Essa Audiência Pública não é só para constar. Vamos escutar e dialogar sobre as propostas das centrais sindicais” respondeu o senador.


Com a garantia de mais tempo para as discussões, as centrais sindicais prometem aumentar o grau de organização e mobilização. O objetivo é garantir instrumentos que respaldem o direito de greve e não o contrário. O maior prejuízo, segundo os sindicalistas, é que a regulamentação do direito de greve se transforme numa lei que inviabilize a garantia constitucional, do direito à paralisação dos servidores em defesa de seus direitos.


Conheça aqui a Convenção 151, disponibilizada no site do escritório brasileiro da OIT.