Sindireceita participa de lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social, na Câmara dos Deputados

Sindireceita participa de lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social, na Câmara dos Deputados

Cerca de 500 pessoas estiveram presentes nesta quarta-feira, dia 20, no auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados para acompanhar o lançamento da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Previdência Social. Explanações e painéis temáticos acerca da reforma da Previdência (PEC 06/2019) e sobre experiências internacionais na área integraram a programação do evento, que contou com a participação de parlamentares, sindicatos, centrais sindicais, movimentos sociais e sociedade civil. O Sindireceita esteve representado, na oportunidade, pelos diretores da Diretoria Executiva Nacional (DEN) Sérgio de Castro (Assuntos Previdenciários) e Sílvia de Alencar (Assuntos Parlamentares).

 

O encontro foi iniciado com a exibição do vídeo “A Capitalização destrói a Previdência Social”, produzido pela Frente Parlamentar (veja abaixo). Destinado a ampla divulgação nas redes sociais, o material contém diversas informações sobre essa modalidade de regime, além de apresentar os resultados negativos vivenciados pelo Chile com a adoção da capitalização, entre eles a redução do valor das aposentadorias chilenas a um terço do salário mínimo do país (equivalente a pouco mais de R$ 300) e o crescimento expressivo do índice de suicídios na região, que figura atualmente como o maior da América Latina.

 

Mesa abertura

Senador Paulo Paim (PT/RS) e demais parlamentares que integram a Frente Parlamentar na abertura do Seminário. 

 

  

 

“Esse governo tem que entender que a Previdência não é do sistema financeiro, mas sim do povo brasileiro”, declarou o senador e presidente da Frente Parlamentar, Paulo Paim (PT-RS), na abertura das atividades do evento. O parlamentar ressaltou ainda que a PEC 06/2019 não visa acabar com privilégios, ao contrário do que afirma o Executivo, e impedirá o acesso à aposentadoria para milhões de pessoas no Brasil. “Eles não atacam privilégios. Eles atacam o interesse mais sagrado do povo, que é o direito de se aposentar. Nós dissemos, na época do governo de Michel Temer, que a reforma proposta por ele não passaria. Essa reforma também não passará”, declarou.

 

Durante a manhã e início da noite, parlamentares e representantes das entidades presentes ocuparam a tribuna para realizar pronunciamentos sobre a PEC 06/2019. As explanações destacaram, sobretudo, que a proposta não considera os elevados índices de desemprego e informalidade que abatem o País atualmente e terá como consequências principais a transferência de recursos públicos para bancos e empresários, em detrimento dos trabalhadores do meio rural e urbano; possibilitará a desconstitucionalização dos debates sobre a Seguridade Social, permitindo que o Executivo promova alterações profundas através de leis complementares, e elevará a desigualdade social no País.

 

Na oportunidade, o diretor do Sindireceita, Sérgio de Castro, ocupou a tribuna e destacou a importância da mobilização dos trabalhadores brasileiros na luta contra a reforma da Previdência. “Temos que ter compromisso com os nossos filhos e com as gerações futuras. Se não nos mobilizarmos, se não ocuparmos as ruas, as coisas não vão mudar”, disse. O diretor também conclamou os Analistas-Tributários e trabalhadores de todo o país a participarem das mobilizações que ocorrerão em diversos estados contra a reforma, na próxima sexta-feira, dia 22. Veja aqui a notícia publicada no site do Sindireceita sobre a mobilização nacional.

 

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Diretor do Sindireceita, Sérgio de Castro.

 

Painéis temáticos

 

À tarde, o lançamento da Frente Parlamentar contou com seis painéis temáticos. A primeira palestra, “Reflexos da Capitalização – Experiência de Aposentadorias no Chile”, foi ministrada pelo cientista político e especialista previdenciário no Chile, Recaredo Galvez. O palestrante ressaltou diversos resultados negativos oriundos da adoção do sistema de capitalização no país ao longo de 38 anos, entre eles: redução do valor da aposentadoria para menos de um salário mínimo; cerca de 95% das mulheres e 86% dos homens que recebem aposentadoria através da chamada AFP (empresa que administra a capitalização individual de trabalhadores dos setores público e privado e dos informais) passaram a receber menos de 55% do valor do salário mínimo quando aposentados; criação de um fundo de reserva de pensões equivalente a mais de US$ 9 milhões, que, por lei, apenas autoriza investimentos em capital estrangeiro; redução cada vez maior dos valores pagos aos trabalhadores aposentados por empresas seguradoras; e elevação do índice de pobreza no Chile para 29,4%.

 

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O cientista político e especialista previdenciário no Chile, Recaredo Galvez.

 

Na sequência, o presidente da Confederação Latino-Americana de Trabalhadores Estatais (CLATE), Julio Durval Fuentes, ministrou a palestra “O Sistema Previdenciário na América Latina e na Argentina”. A explanação de Fuentes foi iniciada com a exibição de vídeo da CLATE (veja abaixo) sobre a campanha realizada na Argentina em defesa de um sistema previdenciário de repartição, mostrando ainda a jornada de lutas de milhares de trabalhadores locais contra a reforma previdenciária aprovada (128 votos a favor e 116 contra) pela Câmara dos Deputados na Argentina. Após a exibição do material, Julio Fuentes detalhou diversos resultados negativos oriundos da privatização da Previdência e ressaltou a importância de mobilizações no Brasil e no mundo contra propostas neste sentido.

 

Julio Durval Fuentes
Presidente da Confederação Latino-Americana de Trabalhadores Estatais (CLATE), Julio Durval Fuentes.

 

 

 

O diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, ministrou palestra com o tema “A Previdência que o trabalhador precisa – Princípios Gerais: Trabalhadores CLT”. Clemente Ganz defendeu, em sua explanação, que quaisquer reformas no setor sejam pensadas a partir de um ponto de vista solidário e distributivo, considerando ainda a necessidade de correção de diversas distorções no sistema tributário brasileiro, tais como a alta carga tributária sobre consumo, desonerações sobre a folha de pagamento concedidas a diversos setores, além da necessidade de taxação sobre renda. O representante do Dieese também criticou a ausência de projeções do governo federal sobre os possíveis impactos que a PEC 06/2019 poderá acarretar para a população.

 

Clemente Dieese
Diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio.

 

A quarta palestra da tarde, intitulada “A expectativa para os trabalhadores no serviço público com as reformas propostas”, foi ministrada pelo consultor de entidades sindicais de servidores públicos, Vladimir Nepomuceno. O palestrante esclareceu diversos aspectos da PEC 06/2019; destacou que o texto prejudicará gravemente os trabalhadores do setor público, especialmente em virtude do aumento de tempo de contribuição e da idade mínima exigida para aposentadoria; e abordou outros impactos negativos da proposta, entre eles o fim do sistema de Seguridade Social do País.

 

“A Previdência dos trabalhadores rurais” foi tema da penúltima palestra do evento, ministrada pelo professor e assessor jurídico da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), Evandro Morello. O representante da CONTAG criticou a reforma previdenciária proposta pelo governo e alertou para os efeitos nefastos que o texto acarretará, se aprovado, para a vida dos trabalhadores do campo - sobretudo as mulheres, que possuem jornada de trabalho mais extensa, considerando as atividades domésticas. Morello ressaltou ainda que os agricultores familiares serão gravemente prejudicados; destacou que 70% dos trabalhadores do campo encontram-se em situação de informalidade e que não há nenhuma medida proposta pelo governo federal para mudar este quadro.

 

A última palestra do dia foi realizada pelo doutor em Ciência Econômica, mestre em Ciência Política e professor do Instituto da Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Eduardo Fagnani, com o tema “A Reforma Tributária Solidária - Alternativa para preservar a seguridade social e promover a justiça fiscal”. Fagnani ressaltou que o projeto da reforma previdenciária tem como intuito acabar com o pacto social criado pela Constituição Federal de 1988.

 

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Mestre em Ciência Política e professor do Instituto da Economia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Eduardo Fagnan

 

O palestrante apresentou diversas propostas visando a construção de uma reforma tributária aliada à justiça social, entre elas o aumento da tributação sobre renda, patrimônio e transações financeiras, além da redução de tributação sobre bens e serviços e sobre a folha de pagamento. Todas as informações integram o estudo “A Reforma Tributária Necessária - Diagnósticos e premissas”, de autoria da Associação Nacional dos Auditores-Fiscais da Receita Federal do Brasil (Anfip) e Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital (Fenafisco), com organização de Eduardo Fagnani.