Analistas-Tributárias do Sindireceita promovem live sobre a História das Mulheres no Movimento Sindical

Analistas-Tributárias do Sindireceita promovem live sobre a História das Mulheres no Movimento Sindical

A história do Sindireceita é marcada, desde sua fundação, pela forte presença e participação ativa das mulheres que integram o cargo de Analista-Tributária da Receita Federal. Além de terem assumido a Presidência da entidade por seis anos, a cada gestão, Diretorias como a de Administração e Finanças, de Tecnologia, de Comunicação, de Assuntos Parlamentares, de Assuntos Jurídicos, de Aposentados e Pensionistas e outras foram e continuam sendo ocupadas por estas valorosas companheiras.

Nossas colegas também sempre desempenharam e seguem desempenhando um papel importantíssimo nos Conselhos e nas Delegacias Sindicais por todo país. São inúmeros os exemplos de colegas que com sua expressiva capacidade e talento contribuíram e seguem contribuindo para o fortalecimento do Sindicato e para a valorização e o reconhecimento do cargo de Analista-Tributário.

Apesar disso, atualmente, do total de 77 Delegacias Sindicais em todo país, apenas 12 são presididas por mulheres. A primeira Live sobre a “História das Mulheres no Movimento Sindical” ministrada pela professora Suzana Veiga, doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em História das Mulheres, promovida pelo Sindireceita tem o intuito de, por um lado, contribuir para a criação de ambientes mais justos e igualitários às mulheres no movimento sindical e na Receita Federal, por outro, refletir e construir caminhos de resistência das mulheres nos seus cotidianos de enfrentamento a uma sociedade que, embora apresente alguns avanços, ainda é extremamente patriarcalista. Nos Sindicatos, apesar do grande número de filiadas mulheres, em geral elas não estão inseridas dentro dos espaços de poder e decisão. A live aconteceu na manhã desta terça-feira (31).

Live das Mulheres

A Analista-Tributária Tânara Mira, filiada da delegacia Sindical de Belém/PA fez a apresentação da live que denominou como aula sobre a história das mulheres. A mediação foi realizada pela Analista-Tributária Denise Figueredo. Durante a abertura da live, Denise Figueredo destacou que a proposta surgiu a partir da formação do Grupo de Mulheres que compreenderam a necessidade de debater com as mulheres e homens do Sindireceita temas como assédio moral e sexual no ambiente de trabalho da Receita Federal, a mulher no mercado de trabalho, salários menores, a dupla jornada das mulheres e a importância de espaços como creches, e auxílio-maternidade, entre outros direitos para que as mulheres possam acessar as mesmas oportunidades que os homens no mercado de trabalho e os espaços políticos e cargos de direção na Receita Federal.

Nesse sentido, está se propondo que se cumpra um anseio que veio da base de filiadas e filiados ao Sindireceita, de que o Sindicato deve acompanhar e cobrar a paridade de gênero nas funções gerenciais da RFB e na direção sindical e realizar análise quantitativa por gênero nos últimos anos, tanto na RFB quanto no Sindireceita, com o objetivo de oportunizar a equidade. “Essa proposta da base foi debatida e encaminhada ao Fórum Nacional de Debate de Base (FNDB), que, por sua vez encaminhou para debate e aprovação na Assembleia Geral Nacional (AGN), ” explicou Denise.

Nessa perspectiva, explicou ainda Denise Figueredo, um grupo de filiadas criou um grupo no Whatsapp com a participação de cerca de 140 mulheres Analistas-Tributárias, onde são discutidas as demandas das mulheres. A live surgiu desse debate do grupo, e é nosso pontapé inicial para entendermos por que as mulheres foram relegadas na escrita da História, apesar de sua intensa participação em todos os momentos, e como isso ainda reflete hoje no cotidiano das mulheres.

Ainda nesse contexto, foram encaminhadas duas propostas relacionadas às questões de gênero e que serão discutidas no próximo CNRE. A primeira propõe a criação de comissão de mulheres, para melhor acompanhar e cobrar paridade de gênero nas funções gerenciais da RFB e direção sindical de proposta vinda do FNDB. A segunda segue na mesma linha e propõe a Criação de Comissão de Mulheres no Sindireceita para analisar e discutir as questões de gênero nos órgãos do Sindicato e na Receita Federal. “Não é um movimento de mulheres contra homens, pelo contrário, queremos juntos tornar o Sindireceita, a Receita Federal e a sociedade como espaços mais justos e respeitosos às mulheres”, apontou. Ela destacou ainda que a live contou com o apoio do Sindireceita através do CEDS/SC.

Sem título

Ao iniciar sua fala, a professora doutora Suzana Veiga, especialista em História das Mulheres destacou que, primeiro, é preciso ficar claro que a busca de participação feminina das mulheres nos espaços de trabalho não exclui os homens, pelo contrário, a paridade de gênero deve ser construída conjuntamente, por homens e mulheres. Suzana Veiga citou um conceito defendido pela historiadora Gerda Lerner que trabalha especificamente com mulheres no movimento sindical, “os avanços da classe trabalhadora foram conseguidos num esforço de unidade de homens e mulheres, em relação ao processo de presentificação das mulheres nos Sindicatos,” por isso, observou, é importante que os homens também participem dessas discussões e compreendam que essas construções são fruto da união de homens e mulheres.

“Mais da metade da humanidade são mulheres, mas onde elas estão na história?” Vocês acreditam que as mulheres realmente estiveram sempre dentro dos espaços privados dos lares e suas únicas ações foram ser esposas e mães?”, questionou a historiadora Suzana Veiga. E respondeu: “as mulheres sempre participaram de forma ativa de todo o processo de construção da história, seja no movimento sindical, seja na Revolução Francesa, nos processos de independência, nas revoluções, nos movimentos políticos, e nas mudanças mais lentas, sociais e culturais da história. A história não é a ciência do passado, e sim, de compreensão dos processos que levaram ao presente. Porém, infelizmente, até recentemente, se priorizava o estudo das datas e dos grandes feitos dos homens, tidos como heróis, uma história ‘vista de cima’, dos acontecimentos factuais, que elogiava esses homens, e relegava às mulheres no contar-se esse processo, porque quem contou a história também foram os homens”, afirmou Suzana Veiga.


Somado a esse apagamento das mulheres na história, as escolas brasileiras não valorizam a história das mulheres no Brasil, prioriza-se a história da Europa, enquanto temos aqui tantas mulheres que construíram Sindicatos, e participaram ativamente da luta. “E é isso que vocês estão fazendo aqui hoje, refletindo sobre essas questões. Dentro do movimento da história, esse Grupo de Mulheres que vocês criaram no Sindicato, é muito importante,” ponderou a historiadora.

Mulheres e trabalho no Brasil

Nos sindicatos, apesar de todas as filiações e presenças femininas, as mulheres não estão inseridas dentro dos espaços de poder e de voz, e por que isso? É só olhando para a história que vamos entender o processo de ocupação dessas lutas que relegou as mulheres a um segundo plano. É, portanto, esse apagamento das mulheres dentro das narrativas oficiais que justifica essa realidade das mulheres não estarem presentes dentro dos espaços políticos. As mulheres foram silenciadas desde a Idade Média, que aos poucos foi construindo mitologias sobre uma “inferioridade” das mulheres em relação aos homens, o que permitiu que se acreditasse na incapacidade delas para assumir alguns postos, e isso só atrasa nossa sociedade na busca por igualdade”, explicou Suzana Veiga.

Ela destacou ainda que, por exemplo, quando se fala da Grécia Antiga, omite-se que também existiram filósofas. Na criação de movimentos no Brasil as mulheres estavam lá, mas foram apagadas dos livros. Dentro da historiografia existem grupos que são denominados os excluídos da História, que foram marginalizados nesse processo de contar-se a história, como os indígenas, o povo negro, as crianças, e entre eles, as mulheres. “Nas praças, nas ruas, nos movimentos de independência, só existem nomes de homens, então como as mulheres se sentirão parte dos processos políticos?”, questiona a historiadora.

A historiadora Suzana Veiga também chamou atenção dos homens e mulheres presentes, que as mulheres não são só esposas e companheiras, são também filhas, mães, irmãs, etc., e ninguém deveria aceitar que o sexo feminino seja considerado inferior com bases em construções culturais que já deveriam estar ultrapassadas. “Por isso, buscamos esses espaços mais justos para todos, e ao compreender essas mitologias e construções que diminuíram as mulheres e desvalorizam o feminino, para revertê-las”, finalizou a professora Suzana Veiga.

Por fim, após a explanação da questão histórica e como chegamos a realidade do presente, a professora Suzana Veiga debateu questões atuais, como assédio moral e sexual no ambiente de trabalho, sobre a importância da luta por direitos das mulheres como creches, auxílio maternidade, aposentadoria, para que elas possam ter condições de igualdade. Além disso, salários menores, a dupla jornada, entre tantos entraves para que possam acessar as mesmas condições que os homens, e assim, conseguirem tempo em sua jornada para galgarem espaços de representatividade política nos sindicatos e de liderança no trabalho.

Para Denise Figueredo, o resultado da live foi muito positivo. O fato das mulheres questionarem seus espaços e lutarem por um protagonismo demonstra como a sociedade vem evoluindo nesse aspecto. A partir dessa constatação de que temos os mesmos direitos e capacidade que os homens de ocuparmos os espaços que quisermos, apesar dos discursos machistas que ainda tentam propagar esses mitos, nós queremos ouvir as mulheres para construir um movimento diferente e entender porque elas não estão participando tanto quanto os homens, e partir daí, modificar essa realidade e nos inserirmos mais nos espaços de luta e decisões. Nós sempre estivemos presentes em todos os aspectos de construções políticas, mas fomos apagadas da história, e é preciso mudar essa realidade”, concluiu Denise Figueiredo.

Na mesma linha, a Analista-Tributária Tânara Mira concorda que a live foi excelente e um espaço de construção assertivo das mulheres. “Hoje foi um momento de mais uma vez estarmos juntos e de ouvirmos a nossa história, a história das mulheres, a história que não nos foi contada com essa riqueza de detalhes. Muito obrigada à professora Suzana Veiga e obrigada a todos vocês. Hoje fizemos história no Sindireceita, nosso sindicato que tem 30 anos de existência e isso demonstra o quanto podemos e realizaremos juntas e juntos. O sindicato somos nós, ” comemorou Tânara Mira.

Participações
A presidente da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Santa Catarina, Jucélia Vargas Vieira de Jesus também participou da live, além de diversos diretores do Sindireceita, e Analistas-Tributárias homens e mulheres de todo país.

Comentários das mulheres no chat da plataforma durante a palestra:

 Mariluce Vilela Fontoura:

“Parabéns pela bela explanação. Muito bom a participação dos homens, parabéns aos homens presentes! ”

 Marlene de Fátima Cambraia Viana:

“Uma live de muita importância para todas nós”

Karla Fantacini:

O que podemos fazer hoje para aumentar a representação feminina em nossa sociedade?

 Rejane:

 “O marco histórico de 8 de março como sendo as mortes das trabalhadoras, demonstra a origem da data pela luta de todas as mulheres unidas por seus direitos. Sugiro que o sindicato disponibilize o filme As Sufragistas, junto a esta apresentação.”

 Jussara Cirne

“Parabéns pela excelente palestra. Observamos que os problemas históricos ainda persistem na sociedade atual e cada vez mais precisamos nos unir para lutar pelos nossos direitos e nosso espaço. Espero que esse evento seja apenas o começo. ”

  Silvania Braga

“É um processo que não podemos recuar, já temos repressão demais e nenhuma mulher no governo que nos represente nas nossas principais reivindicações. ”

 Fernanda Franklin da Silva

“Parabéns pela ótima palestra, Suzana! E agradeço todas e todos pelas excelentes trocas aqui. Feminismo não é antônimo de Machismo”.

 Flavia Ramalho de Aguiar

“Parabéns pela palestra!”

 Mônica Botelho

Excelente apresentação! Extremamente atinente ao nosso momento, de início nesta empreitada. Boa noite a todas e todos!

 Sueli Paula

“Excelente palestra! Necessária mesmo! Só lamento ter tido dificuldade de acesso e ter perdido parte do debate. Espero que tenha outros eventos assim em breve! ”

 Rosilene Fernandes

“Encantada com a palestra da Dra. Suzana Veiga. Agradeço ao CEDS/SC e todas as mulheres maravilhosas que temos na nossa categoria, e aos homens que estão se empenhando por valorizar nossa luta.”