2014: eleição presidencial em aberto


Por Antônio Augusto de Queiroz (*)


São muitos os aspectos que os estrategistas de campanha terão que analisar e processar para ter um bom diagnóstico e projetar um bom prognóstico para seus candidatos. Dois aspectos precisam ser considerados: as manifestações de rua e as características do pleito.


A explosão de indignação de junho e julho, quando milhares de pessoas foram às ruas protestar, terá como conseqüência uma maior desilusão com a política, principalmente diante das respostas tímidas às demandas, e isso poderá levar a um índice recorde de abstenção, de votos brancos ou nulos.


As motivações dos protestos também merecem ser analisadas, para melhor compreender seus possíveis desdobramentos. Embora a agenda fosse difusa, percebe-se que o cidadão protestou em quatro das suas cinco dimensões e não o fez contra este ou aquele governante em particular.


A primeira dimensão foi a de eleitor, por não se sentir representado pelas instituições governamentais. Não há, de parte dos eleitos, respeito aos programas nem prestação de contas aos representados.


A segunda foi a de contribuinte, por entender que os recursos que paga de imposto não são bem aplicados. A percepção é de que as receitas tributárias são destinadas à construção de mega-estádios, são desviados ou vão para apoiar empresários como Eike Batista.


A terceira foi a de usuário de serviço público, pela notória má qualidade desses serviços, especialmente nas áreas de educação, saúde, transporte e segurança.


A quarta foi a de consumidor, pelo medo de retorno da inflação e também pela perda de renda decorrente do aumento das taxas de juros.


A quinta dimensão do cidadão, que é a do trabalhador enquanto classe, mesmo com o baixo crescimento da economia, não se fez presente nos protestos, entre outras razões, porque ainda está satisfeita com a geração de emprego e o aumento da renda, como comprovam as pesquisas do mundo do trabalho.


Se os trabalhadores e suas entidades tivessem ido às ruas, certamente as manifestações teriam tido um caráter mais estrutural. É que sempre que os trabalhadores protestam, de forma organizada e com caráter classista, há grandes transformações. Foi assim no combate à ditadura, na campanha da anistia e das eleições diretas, na constituinte e no impeachment de um presidente, entre outros.


Por exemplo: As manifestações não questionaram explicitamente os fundamentos da política econômica nem pediram a destituição dos governantes, o que levaria a mudanças estruturais. Com a classe trabalhadora nos protestos, esses pontos seriam os primeiros levantados.


O segundo aspecto, que exigirá muita imaginação dos marqueteiros e das direções partidárias, diz respeito às principais características do pleito de 2014, muito diferentes das de 2010, conforme tabela abaixo:







































Eleição 2010



Eleição 2014



Caráter plebiscitário



Sem caráter plebiscitário



Polarizada entre PT e PSDB



Sem polarização



Coincidência de agenda



Diferença de agenda



Candidatos com perfil técnico ou gerencial



Candidatos com perfil político



Ausência de terceira via



Terceira via consistente



Denúncia como arma política da oposição



Debate programático



Comparação do passado



Apontar para o futuro



 A disputa, a julgar pelo quadro acima, não terá caráter plebiscitário nem será entre ricos e pobres. Também não se dará entre os que estão com o PT e os que estão contra o partido. Ou entre os que defendem os trabalhadores e os que são contra. Ou ainda, entre quem defende a privatização e quem é contra. A disputa, tudo leva a crer, não será polarizada entre o PT e o PSDB. Desta vez, parece que existe uma terceira via consistente.


E o ambiente político, a despeito dos protestos e do baixo crescimento econômico, ainda é de continuidade, porém com exigência de correção de rumos, de estilo e postura dos governantes. Em conjunturas com essas características, a oposição tradicional tem pouco espaço.


Portanto, transmitir esperança e confiança ao eleitor pelos candidatos durante a campanha é fundamental para o desfecho da disputa. Os dois candidatos de oposição – Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB – têm abordagens diferentes. O primeiro tem um discurso mais voltado para o ajuste das contas públicas e a defesa da economia de mercado, enquanto o segundo apoia as conquistas da redemocratização, da estabilidade econômica e os avanços sociais dos governos Lula e Dilma, prometendo fazer mais e melhor.


Nessa perspectiva, embora o PSDB – que nas últimas cinco eleições venceu duas em primeiro turno e disputou três em segundo turno – tenha uma grande base de apoio, num eventual segundo turno, terá grandes dificuldades por não estar em sintonia com o ambiente de continuidade. Já Eduardo Campos, cujo desafio é estar no segundo turno, se conseguir chegar à disputa final, será o candidato com maior potencial de ganhar da presidente Dilma.


Outra explicação para o cenário acima, caso a presidente Dilma não liquide a fatura em primeiro turno, é que no segundo turno, numa eventual disputa entre Aécio e Dilma, a tendência de Eduardo Campos é ficar neutro, marchar com a presidente ou seus votos migrarem majoritariamente para a candidata oficial. Já na hipótese de Dilma e Eduardo Campos, a tendência é que o apoio e os votos de Aécio Neves sejam canalizados para Eduardo Campos.


Sendo verdadeiras as premissas acima, a presidente Dilma está em melhor situação: pode ganhar em primeiro turno e só corre maior risco de perder num eventual segundo turno se a disputa for com Eduardo Campos, que contará com o apoio e os votos de Aécio. Já se a disputa se der entre Aécio e Dilma, ela é a franca favorita, já que, senão o apoio, certamente a esmagadora maioria dos votos de Eduardo Campos irão para ela. É aguardar para conferir.


(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap – Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.