Ano começa com mudanças no primeiro escalão do governo

ANO COMEÇA COM MUDANÇAS NO PRIMEIRO ESCALÃO DO GOVERNO

PT altera Ministério para acomodar PMDB e garantir a tranqüilidade para aprovações de projetos no Congresso Nacional.
Ano novo, vida nova. O governo levou a sério a idéia de renovar em 2.004. A começar pela equipe ministerial. As conversas sobre mudanças na Esplanada dos Ministérios começaram no fim de 2003. Se dependesse apenas do PMDB, a troca teria sido feita no meio do ano passado. Mas, como no governo petista, a primeira e a última palavra parecem ser exclusividade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as modificações ocorreram no tempo definido pelo comandante do Palácio do Planalto.
As especulações de que o presidente Lula gostaria primeiro de confirmar o voto do PMDB em votações importantes como na aprovação das reformas, coincidência ou não, se confirmaram. Depois de muitas idas e vindas, negociações e um desgaste público, a dança das cadeiras foi efetivada. O PT tinha 23 ministérios e pastas. Em 2004 o número caiu pra 21. Seis ministros do primeiro ano de mandato saíram. E três mudaram de função. A Casa Civil foi dividida: o atual ministro José Dirceu ficou como gerente e terá a função de supervisionar a atuação de todo o governo. O que, indiretamente, mas com total aprovação do presidente Lula, ele já fazia desde o início de 2.003. No novo Ministério de Articulação Política, o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) será responsável pelas negociações com parlamentares, com o Judiciário, estados e municípios. Os ministros petistas de Segurança Alimentar, José Graziano, e de Assistência Social, Benedita da Silva foram demitidos. No lugar deles, entrou outro petista, o deputado Patrus Ananias (PT-MG) no novo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
No Ministério das Comunicações, saiu Miro Teixeira, entrou o líder do PMDB na Câmara, Eunício Oliveira (PMDB-CE). No Ministério da Previdência, saiu o petista Ricardo Berzoini e entrou o senador Amir Lando (PMDB-RO). Berzoini foi para o Ministério do Trabalho, no lugar de Jaques Wagner. Wagner foi para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e ocupou o lugar de Tarso Genro, que assumiu o Ministério da Educação no lugar de Cristovam Buarque (PT-DF). No Ministério da Ciência e Tecnologia, saiu Roberto Amaral (PSB) e entrou Eduardo Campos (PSB-PE). Na Secretaria de Políticas para as Mulheres, saiu Emília Fernandes (PT-RS) e entrou a professora Nilcéa Freire, ex-reitora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.
Houve negociação até a última hora. Só depois de mais uma reunião com o presidente Lula, o PMDB finalmente soube quais ministérios caberiam ao partido. Em 2003 o líder do governo no Senado, Aloízio Mercadante (PT-SP) sinalizou que o PMDB teria até três ministérios. A dica, censurada mais tarde pelo comando do governo, aumentou a fome do partido por vagas na Esplanada. E os boatos não deixaram por menos. Educação, Saúde, Integração Nacional, pastas com orçamentos de fazer inveja a qualquer um, entraram na disputa. Porém, a atitude do presidente Lula não deixou dúvidas. O PMDB iria ocupar o ministério sim, mas como e quando ele quisesse. E quem não apostou em Trabalho e Comunicações, perdeu. Perdeu feio também quem não cogitou a hipótese do discreto senador Amir Lando, ser um possível ministeriável. Amir Lando deixou o posto de líder do Governo no Congresso, cargo arranjado de última hora, em 2003, para aplacar a insatisfação do PMDB, antes que a reforma ministerial estivesse totalmente desenhada.
Mais uma vez o PT foi vítima dele mesmo. A reforma ministerial mexeu ainda mais com as estruturas do partido, que já andavam meio abaladas após a expulsão dos parlamentares radicais, os deputados João Fontes, Luciana Genro, João Batista de Araújo, o Babá e a senadora Heloisa Helena, que votaram contra a reforma da Previdência. O PT do Rio de Janeiro perdeu com a saída do governo da ministra Benedita da Silva, mas ganhou com a entrada de Nilcéia Freire. O PT do Rio Grande do Sul que abocanhava Minas e Energia, Desenvolvimento Agrário, Cidades, Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, a Secretaria de Política para as Mulheres e o Incra, perdeu a Secretaria e o Conselho, mas ganhou a Educação.
Mas, a mudança que produziu a maior quantidade de arranhados foi no PT do Distrito Federal que perdeu representação no executivo com a demissão do ministro Cristovam Buarque. O ex-ministro não esconde que queria entrar para a História como o ministro que fez a reforma universitária. Para o presidente Lula a reforma parece não ter sido fácil. A mudança no ministério do governo petista gerou mais trovoada do que chuva propriamente. Tudo ocorreu para acomodar o PMDB no governo e corrigir os rumos da política social que até hoje não mostrou a que veio.