Técnico sugere caminho para combate à sonegação nas alfândegas do Brasil
Controles administrativos fiscais necessitam adequar-se às novas realidades de segurança fiscalO Técnico da Receita Federal Carlos Paz de Souza Castro que trabalha na Alfândega do Porto de Santos há dezesseis anos acredita que há uma forma de a Administração Tributária evitar qualquer possibilidade de corrupção entre empresários e funcionários públicos nas unidades aduaneiras do País através de um sistema de informações anterior a análise documental, física ou a valoração de mercadorias em procedimento de importação.
Formado em direito, o Técnico que também é delegado sindical do Sindireceita em Santos-SP ocupou, entre 1982 a 1985, o cargo de Auxiliar de Vigilância e Repressão ao Contrabando. Atuou também durante dois anos e meio no Grupo de Auditoria e Fiscalização de Empresas envolvidas em Comércio Exterior, sendo que atualmente trabalha no Plantão Fiscal.
Com sua experiência e mantendo-se atualizado nos assuntos que envolvem a Administração Aduaneira e seus sistemas de controle das atividades de comércio exterior, Castro elaborou uma proposta para a administração das Alfândegas visando combater a sonegação fiscal. A proposta tem como parâmetro a Alfândega do Porto de Santos, a maior do Brasil, mas contêm um formato de possível adequação às demais alfândegas do Brasil.
O estudo baseia-se em "antecipar algumas informações que atualmente são prestadas pelo importador somente no momento do registro da declaração de Importação (fato Gerador dos impostos), passando o fornecimento dessas informações para um momento anterior à emissão da guia de movimentação de container".
Na escolha do recinto alfandegado, de acordo com Castro, o importador prepara as condições de desembarque para a internação de sua carga, negociando armazenagem com o terminal que contem a melhor logística e as menores taxas.
Atualmente, no recinto aduaneiro da Alfândega do Porto de Santos, existem 92 recintos que são depositários de carga sob controle aduaneiro, sendo, 59 alfandegados e 33 com concessão do regime de Exportação (Redex).
Os custos de uma operação de importação englobam além de frete, seguro e taxa da marinha mercante, também a classificação fiscal da mercadoria que vai incidir no Imposto de Importação (I.I), Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto Estadual de Circulação de Mercadorias (ICMS) com pagamento mediante débito automático em conta bancária indicada pelo contribuinte em declaração específica apresentada no SISCOMEX.
A idéia do Técnico é que, no momento da contratação do terminal alfandegado para depositar a mercadoria negociada no exterior, o importador deverá estar munido de diversas informações de grande interesse para a Secretaria da Receita Federal. Ou seja, essas informações seriam passadas à administração aduaneira antes da emissão da Guia de Movimentação de Containeres (GMCI), documento que atualmente é preenchido pelo próprio recinto alfandegado.
As informações preliminares seriam disponibilizadas pelo importador através do Siscomex da seguinte forma:
De posse das informações, a unidade fiscal emitiria então o número da GMCI, liberando a mercadoria para ser depositada no recinto alfandegado.
Todas as informações seriam armazenadas e confrontadas preliminarmente com as informações contidas nos (BLs), entregues na Visita Aduaneira através do TVA, antecipando a perda do prazo da espontaneidade pela ocorrência de um procedimento fiscal administrativo.
Segundo Castro, as declarações de importações seriam parametrizadas no mesmo percentual de canais (verde, amarelo, vermelho e cinza) aplicados atualmente, fazendo com que as declarações divergentes das informações antecipadamente armazenadas no Siscomex sofram a análise documental e física das mercadorias. Além disso, a medida ajudaria sanar deficiências do sistema de parametrização atual que necessita manter controles a posterior liberação do próprio sistema e dos grupos de análise documental e trânsito aduaneiro.
Castro informa que na Alfândega do Porto de Santos, a Equipe de Procedimentos Especiais Aduaneiros Gerais EQPEA/SEPEA, por exemplo, trabalha hoje com três Auditores Fiscais da Receita Federal, analisando a posterior menos de 1% das declarações de importação em um universo de aproximadamente 18 mil declarações de importação que são parametrizadas mensalmente nesta unidade fiscal, além de 4 mil declarações de transito aduaneiro. "Tal medida é absurdamente ineficaz e concentra um poder demasiado nas mãos de poucos Auditores Fiscais da Receita Federal, que se desviaram das verdadeiras atribuições desta Equipe", argumenta.
As atribuições delegadas a EQPEA/SEPEA, conforme o Técnico, vão muito além da mão de obra disponibilizada pela administração da Alfândega do Porto de Santos. "E a atividade que este grupo vem desenvolvendo prioritariamente não está inserida na competência do grupo, até mesmo porque passaram a realizar uma fiscalização posterior a realizada pela Equipe de Conferência Documental (EQCOD), a Equipe de Trânsito Aduaneiro (EQTRAN) e a fiscalizar também as declarações liberadas no canal verde pelo Siscomex".
A proposta de combate à sonegação fiscal do Técnico da Receita Federal somada aos investimentos do governo federal nos portos e terminais brasileiros adapta-se às novas normas internacionais de segurança (ISPS - Code) contribuindo ainda mais para o controle de cargas não nacionalizadas.
Para Castro, os resultados dos investimentos de R$ 100 milhões do governo federal já são visíveis: quase 80% dos portos e terminais brasileiros por onde circulam navios de bandeiras estrangeiras já estão totalmente ou parcialmente adaptadas as novas legislações mundiais, que prevê a instalação de câmaras, cercas de isolamento, catracas, aparelhos de identificação de pessoas e máquinas de raio-X. Outros R$ 150 milhões devem ser liberados nos próximos dois anos para investimentos.
Ele destaca que equipamentos de monitoramento instantâneo serão disponibilizados as Alfândegas e as demais autoridades com competência para relacionar-se com os assuntos portuários permitindo um maior controle em locais de zona controlada (portos e terminais). Para uma melhor adequação, Castro sugere que os servidores envolvidos com a posterior análise das declarações já parametrizadas e liberadas pelo Siscomex, deveriam ingressar nos Grupos de Inteligência criados para combater fraudes no comércio exterior. "Essas medidas, aperfeiçoariam os Grupos de Inteligência".