Presidente da Câmara foi exemplar na votação do mínimo

 

(*) Por Antônio Augusto de Queiroz


O deputado Marco Maia (PT/RS) passou com louvor em seu primeiro grande teste na Presidência da Câmara. Combinou firmeza no cumprimento regimental com leveza no trato com seus colegas. Conduziu a votação sem qualquer tumulto. Talvez tenha sido a votação de salário mínimo mais tranquila do período pós-constituinte.


Sua postura na Presidência dessa sessão histórica da Câmara foi elogiada por partidos e parlamentares, inclusive de oposição, e também pelos manifestantes presentes. Foi o que pode se classificar como uso legítimo da autoridade, sem arrogância, autoritarismo nem bate-boca com parlamentares, nem mesmo com os mais exaltados. Comportou-se como deve se comportar um Chefe de Poder, com isenção e o máximo de lisura.


O perfil e a trajetória política do deputado Marco Maia explicam, em grande medida, essa postura de equilíbrio, de prudência e de tolerância, sem qualquer afetação ou vaidade exacerbada.


Articulado e ousado, Marco Maia é um negociador nato. E reúne as três condições indispensáveis ao sucesso nesse campo das relações políticas e de poder: humildade, disposição para ouvir e capacidade de diálogo. A soma dessas qualidades e habilidades afastam a soberba e, em consequência, a rejeição e o veto, os dois principais entraves na carreira política ou profissional de qualquer pessoa.


Outros poucos parlamentares, que tiveram ascensão meteórica e inusitada como Marco Maia, não se comportaram com a mesma humildade e discernimento. Ou colocaram os pés sobre as mãos, sentando na cadeira antes da hora, ou se jactaram de uma importância e prestígio que realmente não tinham. Em todas as hipóteses pagaram um alto preço.


Marco Maia ingressou na vida pública pela via sindical, movimento no qual teve as primeiras lições de militância, mobilização, articulação e negociação. Foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Canoas, no Rio Grande do Sul, e Secretário-Geral da Confederação dos Metalúrgicos da CUT. Ascendeu a condição de gestor público, tendo sido Secretario Estadual de Administração no Governo Olívio Dutra e presidente da Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre.


Com a experiência sindical e administrativa foi eleito suplente de Deputado Federal em 2002, tendo sido efetivado no mandato em 2005 e reeleito nos pleitos de 2006 e 2010, este último com grande votação, ficando entre os dez mais votados do Estado. No Congresso, além de vice-presidente da Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos, foi vice-líder do PT. Sua projeção, entretanto, deveu-se ao grande desempenho na relatoria da CPI do Trafego Aéreo e, principalmente, ao exercício da vice-presidência e, interinamente, da Presidência da Câmara dos Deputados após a renúncia em dezembro do ex-presidente Michel Temer.


Estreou na Câmara com desenvoltura de veterano, tendo sido classificado como parlamentar em Ascensão já em 2006 e figurado como Cabeça do Congresso a partir de 2007, na publicação do Diap Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar.


O Diap identifica, anualmente, os cem parlamentares mais influentes do Congresso, entendendo-se como tal aqueles com capacidade de conduzir debates, negociações, votações, articulações e formulações, seja pelo saber, senso de oportunidade, eficiência na leitura da realidade ou facilidade para conceber ideias, construir posições, elaborar proposta e projetá-las no centro do debate, liderando sua repercussão e tomada de decisão.


O temor de alguns poucos parlamentares especialmente os eleitores do candidato avulso derrotado Sandro Mabel de que Marco Maia fosse se comportar na Presidência da Câmara como líder sindical ou membro da tropa de choque do Governo foi dissipado na votação do salário mínimo. Se mantiver esse padrão, sua profecia de que a sociedade irá se orgulhar da legislatura atual poderá se confirmar.


(*) jornalista, analista político, diretor de documentação do Diap e autor dos livros Por dentro do processo decisório como se fazem as leis e Por dentro do Governo como funciona a máquina pública.