Frente Parlamentar debate importância dos servidores públicos da saúde no combate à Covid-19 e critica demora na vacinação
A essencialidade dos servidores públicos da saúde que há mais de um ano atuam na linha de frente de combate à pandemia de coronavírus, foi tema de debate promovido pela Frente Parlamentar Mista em Defesa do Serviço Público (Servir Brasil) na noite desta quinta-feira, dia 8. A live foi conduzida pelo deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF), que é presidente da Frente, e contou com a participação da professora-adjunta da Faculdade de Medicina da UnB, Drª. Kátia Crestine, o vocalista do grupo Detonautas, Tico Santa Cruz, e o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice – presidente da Frente Servir Brasil.
Durante a live, o grupo denunciou a disseminação de fake news (notícias falsas), apontada por mais de 90% dos profissionais de saúde ouvidos numa pesquisa da Fiocruz como verdadeiro obstáculo no combate ao novo coronavírus. Eles também criticaram a falta de um planejamento de biossegurança na maioria dos hospitais para proteção e segurança dos profissionais da saúde que hoje são os que mais têm contato com infectados por Covid – 19. “Quem cuida de quem cuida?”, questionaram no debate. Por fim, apontaram os erros e falhas de planejamento do governo na compra de vacinas como principal motivo do momento gravíssimo que vivemos com a saturação das UTIs em todo Brasil. Além disso, criticaram duramente o projeto cujo texto – base foi aprovado na Câmara dos Deputados nesta terça – feira (6) que permite que empresas comprem vacinas contra a Covid-19 para imunizar funcionários, enquanto o governo ainda vacina grupos prioritários.
O Professor Israel Batista denunciou a alta letalidade da Covid-19 entre profissionais da saúde: de acordo com o Observatório da Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), 519 enfermeiras, técnicos e auxiliares de enfermagem vieram a óbito em 2020 e 2021 no Brasil em decorrência do novo coronavírus, 49 deles apenas em janeiro deste ano. Ele cobrou uma ação urgente para acelerar a vacinação destes trabalhadores altamente expostos e muitas vezes desprotegidos.
Questionada pelo deputado Israel Batista sobre quais ações devem ser buscadas para proteger esses profissionais, a professora-adjunta da Faculdade de Medicina da UnB, e pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Trabalho, Gestão e Educação em Saúde da UnB Drª. Kátia Crestine apontou a adoção urgente de um planejamento de biossegurança nos hospitais para conter os óbitos. Ela relatou a falta de EPI adequado, as condições precárias de trabalho que estão expostos, as jornadas de trabalhos exaustivas e a omissão das gestões como responsáveis por esse grande número de óbitos, sobretudo, entre profissionais da enfermagem. “Os equipamentos de proteção individual são limitados, como máscaras, insumos, luvas, também falta maior capacitação para seu uso, descarte adequado, entre outros. Esses problemas causam transtornos psíquicos, distúrbios de sono, ansiedade, estresse, que levam à depressão e outras doenças, e que pioram ainda mais as condições de trabalho, pois muitos precisam se afastar para cuidarem de sua saúde. E tudo isso é consequência da falta um plano de biossegurança na maioria dos hospitais, o que explica os altos número de mortes entre os trabalhadores da saúde,” apontou a Drª. Kátia Crestine.
Kátia Crestine também denunciou a propagação das fake news sobre a Covid-19: mais de 90% dos profissionais de saúde admitem que as notícias falsas são um obstáculo no combate ao novo coronavírus. Em uma pesquisa da Fiocruz, eles relataram que durante o atendimento, mais de 70% dos pacientes tinham algum tipo de crença referente às fake news, como a adoção de medicamentos ineficazes para prevenção e tratamento, por exemplo. “Além de um desrespeito com a vida de todos, isso implica numa demora ainda maior para que as pessoas compreendam o que é cientificamente comprovado e adotem medidas necessárias para prevenção. Temos profissionais de saúde de excelente qualidade, e precisamos, como nação, contribuir com eles no combate à pandemia, com empatia, respeito e esperança de que é possível sairmos da situação que vivemos hoje. Viva a Ciência, à Saúde, e ao SUS,” parabenizou a professora.
O vocalista do grupo Detonautas também apontou as fake news e a desinformação entre algumas causas do caos que o Brasil vive hoje em relação à pandemia. Ele também criticou e classificou como consequência de uma crise ética e moral que o Brasil vive hoje, o projeto em andamento no Congresso que permite empresas comprarem vacina contra covid-19 sem o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Se existe vacina para empresas privadas comprarem, e considerando que o SUS consegue vacinar cerca de 8 milhões de pessoas por dia, porque o governo não compra os imunizantes para vacinar toda a população urgentemente?” questionou. Ele reprovou ainda a falta de consciência de um coletivo de um país historicamente dividido por castas, onde a elite acredita que estará segura se for imunizadas, enquanto o restante da população espera na fila do SUS, o que é ingenuidade, pois enquanto grande parte da população não for vacinada, novas cepas continuarão a multiplicar-se, colocando todos em risco.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) lamentou que o Brasil tenha se tornado o epicentro do coronavírus, e hoje é uma ameaça sanitária global devido ao surgimento de novas cepas, e que, segundo ele, isso não foi uma casualidade. “Trata-se de um caso pensado, proposital, porque o que está acontecendo no Brasil não está acontecendo, por exemplo em países mais numerosos que o Brasil como Estados Unidos, China, Rússia, Índia, que possuem população maior que a nossa?” Questionou. “Essa escalada diária no número de óbitos no Brasil – foram registradas ontem 4.195 mortes por Covid nas últimas 24 horas – é fruto de uma irresponsabilidade dos gestores que estão no comando do país, seja por ação ou omissão, e eles devem ser responsabilizados por isso. Hoje uma Comissão de Inquérito instaurou a CPI do Covid-19, e precisamos nos unir para que ela caminhe e responsabilize os culpados, pois se existe uma omissão no combate à pandemia, é preciso que os culpados sejam responsabilizados,” finalizou o senador.
Na mesma linha, o Professor Israel Batista destacou que o Brasil tem o maior sistema público de vacinação do mundo e é o único País, a nível global, que está permitindo a compra privada aos ricos. “Esse projeto é a vergonha do parlamento brasileiro e a destruição do SUS," afirmou. O parlamentar reforçou ainda que o objetivo da live é alertar a população sobre a importância de unirem-se no combate ao coronavírus. "Há muitos profissionais da saúde com qualidade e buscando dar seu melhor, apesar de esgotamento físico e emocional, e a população precisa ter consciência que somente com união, conhecimento, solidariedade e empatia contribuiremos para o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus," apontou.
Lives debaterão serviço público em abril e maio
O debate integra a temporada de ações programadas pela Frente Servir Brasil para o mês de abril, cujo objetivo é conscientizar a sociedade sobre o tema “somos todos servidores”. Ao longo deste mês, às quintas-feiras, o colegiado realizará diversos debates ao vivo sobre o serviço público, a reforma administrativa e os servidores na linha de frente da pandemia. A live foi transmitida ao vivo pelas redes sociais do colegiado e na página do Sindireceita no Facebook (clique aqui para assistir a live).