Falta fiscalização rigorosa na fronteira

Falta fiscalização rigorosa na fronteira
Folha de Boa Vista
Data: 29/11/2012
 
Na divisa do Brasil com a Guiana, a fiscalização nos dias da semana não é rigorosa e vira porta de entrada e saída para bandidos

O Brasil é um país continental, é verdade. Contudo, quando não se faz vistoria pelo menos nos postos de fiscalização das fronteiras internacionais, logo se abrem as portas do país para contrabandistas e outros bandidos. É o que ocorre na barreira do Município do Bonfim, por exemplo, que faz divisa com a Guiana. São raras as exceções em que o condutor é parado para se identificar e ter o veículo vistoriado. Do outro lado, já em solo guianense, ocorre a mesma coisa; ou seja, falta mais fiscalização na fronteira entre os dois países.

Do lado brasileiro, a uns cem metros da ponte sobre o rio Tacutu, além do posto da Polícia Federal, também há um da Receita Federal e um da Receita Estadual. Mas dificilmente se vê uma fiscalização mais rigorosa, a não ser em tempo de festejos ou período de férias, quando turistas cruzam a fronteira com mais frequência.

O movimento não é grande na fronteira do Bonfim, mas os bandidos atuam como “formiguinhas”. Aos poucos, eles aproveitam a falta de fiscalização para contrabandear produtos, principalmente eletroeletrônicos. Também fazem o descaminho do alho e atuam no tráfico de drogas, em especial a maconha.

Só em outubro do ano passado, em conjunto com a Força Nacional de Segurança na operação Sentinela, a Polícia Federal apertou o cinto na fronteira e apreendeu mais de dez quilos de maconha, provenientes da Guiana. Isso sustenta a tese de que Roraima faz parte da rota do narcotráfico, servindo como corredor para escoar a droga para outros estados brasileiros e para o exterior. As investigações da própria polícia apontam que a maconha traficada em Roraima vem da Guiana, mesmo assim, falta fiscalização mais rigorosa na barreira.

SENTINELA – A Operação Sentinela é uma parceria entre a Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal (PRF) e Forças Armadas iniciada em maio de 2010, ainda no governo Luiz Inácio Lula da Silva, sem prazo para terminar. O Plano Estratégico de Fronteiras aperfeiçoou e com isso aumentou a eficácia da ação. A PRF atua junto com as Forças Armadas na parte ostensiva. Cabe à PF a atividade de investigação e inteligência e ao Exército, a parte logística.

Apenas dois PFs atuam na barreira do Bonfim

A Assessoria de Comunicação da Superintendência da Polícia Federal em Roraima (PF/RR) informou, ontem à tarde, que apenas dois policiais e um assistente administrativo atuam na barreira de fiscalização do Bonfim. A equipe é trocada a cada semana. Lá os trabalhos se concentram principalmente no carimbo de passaportes.

Segundo a Ascom, sobre a fiscalização durante a travessia de condutores e pedestres na fronteira, a PF faz a abordagem quando necessário, por exemplo, ao receber denúncias ou quando o setor de inteligência atua. “Pelo nosso contingente fica difícil revistar todos que passam pela barreira, mas garantimos que o posto funciona 24 horas”.

Quando acionados pela Capital, via 190 ou 0800, os federais do Bonfim montam barreira para impedir a travessia ao país vizinho. Foi o que aconteceu em meados do ano passado, quando um homem foi preso em flagrante tentando repassar a um guianense uma motocicleta furtada em Boa Vista. O acusado foi flagranteado no artigo 155, parágrafo 5º (furto qualificado). O homem foi recolhido à Penitenciária Agrícola do Monte Cristo.

Sobre a atuação em parceria com outras instituições, a Ascom disse que a Operação Sentinela atualmente se concentra na barreira do Jundiá, na divisa de Roraima com o Amazonas, ao Sul do Estado. “Não decidimos aonde a operação vai atuar. A Ordem vem de Brasília de acordo com a demanda”, explicou. (AJ)


Fiscalizações intensificadas

Ainda no ano passado, nos últimos 90 dias, a Operação Sentinela, coordenada pela Delegacia de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, com a participação da Força Nacional de Segurança Pública e polícias Civil e Militar, prendeu 29 pessoas somente na fronteira do Brasil com a Guiana. As fiscalizações foram intensificadas com patrulhamentos terrestres e barreiras policiais na BR-401, que liga Boa Vista ao Município de Bonfim, e na RR-201, que liga Bonfim a Normandia.

Também foram realizados patrulhamentos fluviais no rio Tacutu, com o apoio logístico do Exército Brasileiro, por meio do Pelotão Especial de Fronteira do Bonfim, e troca de informações com autoridades guianenses, de Lethem. A integração entre as forças de segurança contou também com o auxílio da Receita Federal.

DADOS – A Sentinela prendeu 29 pessoas na fronteira com o Bonfim, sendo 11 por suspeita de tráfico de drogas e os demais por envolvimento com os crimes de roubo e furto de motocicletas, contrabando e descaminho de mercadorias, além de porte ilegal de arma de fogo.

Foram recapturados dois foragidos do sistema prisional e apreendidas 13 mil peças de vestuário da Guiana, que entraram no Brasil sem o devido recolhimento de impostos. Foram apreendidos, ainda, 10,2 kg de maconha e um revólver calibre 38.

Os policiais recuperaram 17 motocicletas que tinham sido furtadas na Capital e estavam sendo levadas para o país vizinho para serem trocadas por drogas. Ainda apreenderam 11 veículos que estavam sendo utilizados no emprego do crime, como tráfico de drogas. (AJ)


De quatro postos de fiscalização na Capital, apenas um funciona


No posto de fiscalização na BR-401, cena é de um prédio onde não há atividade rotineira 

Não bastasse a vulnerabilidade das fronteiras nacionais, dos quatro postos de fiscalização na entrada de Boa Vista, apenas um da PRF funciona. Ele está localizado na BR-174 sul, na saída da Capital rumo a Mucajaí. Os outros três, antes da ponte dos Macuxi, na BR-401 (saída para Guiana), na RR-205 (de Alto Alegre) e a que fica após a ponte do Cauamé, na BR-174 Norte (saída para a Venezuela), estão inoperantes.

O não funcionamento é motivo de reclamação por parte da população. Segundo os condutores, os postos fechados facilitam para o lado dos bandidos e ainda contribuem para o aumento da violência no trânsito. No posto que fica antes do bairro Cidade Satélite, saída para Alto Alegre, a Folha constatou que havia policiamento, mas não ocorriam a devida abordagem. 

Já no prédio que fica antes da ponte dos Macuxi, na saída para a Guiana, a Nordeste do Estado, a presença de policiamento não é constante. Na barreira policial, equipes da Secretaria da Fazenda (Sefaz) também atuam, mas apenas confiscando.

No sentido Pacaraima, na BR-174, saída para a Venezuela, a barreira policial é de responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal (PRF). O posto está desativado, pois o prédio já não oferece as condições necessárias para as equipes policiais. Apesar disso, a assessoria de comunicação da PRF afirmou em entrevista passada que o policiamento era feito no local. A Folha esteve lá e não constatou nenhum trabalho de fiscalização.

A barreira policial localizada na saída de Boa Vista para o Município de Mucajaí, trecho Sul da BR-174 é uma das que funciona normalmente, com policiamento constante. Equipes de plantão se revezam no posto. As “batidas” policiais também ocorrem de forma itinerante, ou seja, os rodoviários fazem blitze volantes na rodovia.