Receita diz em e-mail: crise trouxe o ?imponderável?

A secretária da Receita Federal, Lina Vieira, enviou um inusitado e-mail aos auditores do fisco. O texto é datado da última segunda-feira (2). Num timbre que contrasta com otimismo exibido em público pelo ministro Guido Mantega (Fazenda), seu chefe, a xerife do fisco pinta a crise com tintas fortes. Trata-se, no dizer de Lina, ?da maior crise que a economia mundial sofreu nos últimos 70 anos!? A frase termina assim mesmo, com um ponto de exclamação.

A secretária da Receita anota ainda que a encrenca produziu ?fatos imprevistos e horizontes imponderáveis?. A mensagem eletrônica de Lina Vieira foi escrita com o propósito de expor aos subordinados as razões que a levaram a implantar uma novidade chamada PSI. Processo Seletivo Interno, eis o nome que se esconde atrás da sigla. Trata-se de um novo sistema de escolha de ocupantes de cargos de chefia na Receita.

No e-mail, Lina chama os subordinados de ?meus queridos e queridas?. Antecipando-se às ?críticas?, ela se explica à categoria. Volta a discorrer sobre a ex-marolinha: ?[...] Em face do agravamento da crise mundial - cuja magnitude já repercute duramente nos principais setores da nossa economia real...? ?...O requisito da celeridade sobrestou o desejado anseio da participação, para fins de preenchimento das vagas [...] de delegados e inspetores da Receita Federal do Brasil?.

Flertando com o óbvio, a chefona do fisco diz que é ?notória a urgência no preenchimento de cargos relevantes?. Ela prossegue: ?A necessidade de implantação de um processo [de seleção] expedito justifica-se pela gravidade excepcional da conjuntura econômica?. Lina promete à corporação que vai continuar perseguindo o ?modelo mais aberto?. E encarece a compreensão dos subordinados: ?Se não for pedir muito, também o convido e convoco para que, a despeito das reduções intrínsecas do modelo, dêem uma oportunidade ao nascimento de uma nova cultura das relações humano-funcionais...?

Uma cultura ?...em que as oportunidades de mudança sejam institucionalizadas de forma mais legítima, democrática e transparente?. É no mínimo espantoso que, em meio a uma crise que morde a arrecadação tributária, a elite do fisco desperdice o seu tempo com dúvidas ?humano-funcionais?.

O recém-adotado PSI (Processo Seletivo Interno) está sendo testado pela Receita no preenchimento de 12 postos de confiança. São oito cargos de delegados do fisco: Lages (SC), Niterói (RJ), Jundiaí (SP), Limeira (SP), Fortaleza (CE), Montes Claros (CE), Manaus (AM) e Cuiabá (MT).

E quatro cadeiras de inspetor, nos portos do Rio, de Vitória (ES) e de Corumbá (MS). A coisa é melhor -ou menos pior- do que o descalabro de uma eleição direta. Mas não deve ter a celeridade prevista por Lina Vieira. Vai funcionar assim: Os candidatos inscrevem-se num ?Banco de Talentos?. Mais de 8.000 auditores já levaram seus nomes ao banco.

Na fase seguinte, os candidatos serão classificados segundo uma grade de pontuação que leva em conta da experiência profissional à avaliação dos colegas. Na etapa final, restarão cinco candidatos para cada vaga. Serão submetidos a uma entrevista. Só então os nomes selecionados vão à mesa da secretária Lina. Estima-se que o processo pode durar de 30 a 90 dias. Até lá, a Receita Federal talvez esteja mais próxima dos "horizontes imponderáveis?. (Escrito por Josias de Souza às 03h41 no http://josiasdesouza.folha.blog.uol.com.br/arch2009-02-01_2009-02-07.html)

Analistas-Tributários participam de apreensão de 3,8 toneladas de cocaína em Paranaguá/PR