Entrevista com o Analista-Tributário Elóis Felício Rodrigues: Um paranaense patrono dos gaúchos

Entrevista com o Analista-Tributário Elóis Felício Rodrigues: Um paranaense patrono dos gaúchos
"Ela (Laura) é uma grande companheira, me dá forças", destaca o Analista-Tributário Elóis Felício Rodrigues

Jornal de Beltrão – 18 de setembro de 2012

Pelo sobrenome Rodrigues, a pilcha, seu conhecimento de MTG e sua liderança neste setor, Elóis é um autêntico tradicionalista gaúcho. Mas ele nasceu no Paraná, dia 31 de março de 1953.

Seu pai — Antônio Rodrigues —, a mãe — Natalina Maria Fassículo — e os cinco irmãos mais velhos é que vieram de Erechim (RS). Ele e as duas irmãs mais novas nasceram em Pato Branco. Do Rio Grande, o pai, comerciante, trouxe as bombachas e toda a indumentária gauchesca, que desde garoto Elóis aprendeu a gostar e a usar.

Só não seguiu o pai na profissão. Dos 15 aos 19 anos, trabalhou sem carteira assinada. Depois, com carteira, somou mais 14 anos, entre a Copel e a Eletrosul de Salto Osório e Salto Santiago, às margens do Rio Iguaçu. Formou-se em Administração de Empresas, depois advogado e se especializou em Processo Civil; fez concurso público e trabalhou para o governo federal até se aposentar, dia 23 do mês passado. Os primeiros quatro anos foram em Guaíra; os últimos 21 em Francisco Beltrão, como chefe da agência da Receita Federal. Neste período, trabalhou também como técnico do tesouro nacional, cargo que hoje se denomina Analista-Tributário.

Na vida social, Elóis foi patrão dos CTGs Guapos da Fronteira, de Guaíra (PR), e Recordando os Pagos, de Francisco Beltrão (deste duas vezes). Também foi coordenador, conselheiro, sota-capataz, agregado das pilchas, diretor artístico, diretor cultural, entre outros cargos, do MTG, além de vice-patrão do CBTG.

Também já foi venerável-mestre da Loja Maçônica Tríplice Fraternidade de Francisco Beltrão. Entre tantos outros cargos.

Casado com Linaura (Laura) de Arruda Rodrigues, tem dois filhos — Danielle e Elóis —, o genro Peterson de Lima, a nora Mary Diane e os netos Matheus e Maria Eduarda.

Elóis, que se diz "gaúcho de coração", é cônsul honorário do Estado do Rio Grande do Sul, desde 2006. E neste ano foi escolhido como patrono da Semana Farroupilha de Francisco Beltrão.

Nestas duas páginas estão algumas das muitas histórias que Elóis tem para contar de sua vida sempre cheia de atividades.

JdeB - A gente imagina o garoto Elóis aprendendo a gostar de bombacha porque o pai usava bombacha, isso em Pato Branco?

Elóis - Na verdade, quando eu comecei a perceber isso, nos meus cinco, seis anos, eu já morava no interior de Laranjeiras do Sul. A família veio de Erechim e ficou por pouco tempo na região de Pato Branco, onde eu nasci. Eu via meu pai de bombacha e a minha mãe fazia bombacha pra mim. E os meus irmãos, que nasceram no Rio Grande do Sul, não gostavam, na época, de bombacha. Quando comecei a entender essa situação, eu fiquei até chateado por não ter nascido no Rio Grande do Sul. Aí, esse gosto foi na infância, depois ele desapareceu, a vida nos leva por várias situações e tal. Mas quando via os gaúchos na TV, programas gauchescos, pessoal em baile, comecei a frequentar o baile no CTG. E a vontade de viver aquela vida de gaúcho voltou. Nunca tive oportunidade, em Guaíra, de frequentar mesmo um CTG. Comecei a frequentar e aí sim comecei uma vida mesmo de gaúcho. Participava de eventos ocupando cargos na entidade, trabalhando e vivendo aquela vida que eu imaginava que meu pai tinha vivido, mas na verdade não era isso, o meu falecido pai usava bombacha porque era o que ele sempre usou a vida inteira. Só no Paraná que, devagarinho, ele foi deixando a bombacha. Mas era a roupa dele, ao contrário de nós, que usamos por conta de um evento, de uma programação.

JdeB - Sempre se sentiu bem de bombacha?

Elóis - Sempre. Eu não uso no dia a dia não porque eu não me sinto bem, acabo levantando e, conforme a atividade que eu vou ter, eu já penso na atividade em vez de pensar na roupa. Mas, como me sinto à vontade, sempre que possível eu gosto de usar.

JdeB - Muitos acham que é desconfortável.

Elóis - Hoje tem vários tipos de bombacha, porque o Rio Grande do Sul tem uma grande diferença nos seus usos e costumes. Embora a bombacha seja unânime, existem variações dela, mas tem pequenas diferenças; conforme a atividade da pessoa, vai usar a bombacha mais adequada. Pra andar a cavalo, por exemplo, é recomendada uma bombacha um pouco mais estreita, que não incomoda muito no montar e desmontar. É difícil se a pessoa não for mesmo da área do tradicionalismo, a bombacha não vai deixá-la à vontade mesmo, mas se tiver um gosto para a bombacha, ele aceita assim mesmo.

JdeB - Seus primeiros tempos de escola foram em Laranjeiras?

Elóis - Laranjeiras do Sul. Na época, meu avô era vivo ainda e a gente ouvia muitas histórias. Além de ver o pai e o meu avô de bombacha, ele contava muitas histórias de tropeadas, que ele tinha sido tropeiro... E quando ia pra escola, conversava com alguns colegas sobre a origem da família e, apesar da nossa origem simples, o pai tinha sítio, mas tinha sempre comércio. Não cheguei a viver na zona rural, eu ia fim de semana, quando as férias escolares permitiam. O pai também ia abrir estrada, ele tinha os empregados, mas eu ia pra providenciar um apoio, cuidar da alimentação dos peões que faziam algum serviço mais volumoso no sítio e, sempre que podia, eu ia junto com o pai pra ficar aquela semana. Tinha que fazer comida pra peonada por uma semana e eu dava um jeito de acompanhar. Eu dormia em barraca de lona e no meio do mato ouvindo barulho, bicho e tal. Naquela época, era permitido caçar, então com meus 8, 9 anos de idade o pai já tinha me ensinado a atirar com a espingarda. Embora vivesse na cidade, eu sempre que possível tava no sítio. Depois que o pai vendeu o sítio, eu tinha os tios que tinham sítio, e têm ainda, em Laranjeiras do Sul, onde eu me criei. Até meus 14, 15 anos, sempre que podia, eu tava no sítio passando o final de semana, uma semana caçando, pescando, ajudando, se necessário; se os primos fossem pra roça trabalhar, eu ia ajudá-los também, pra depois poder brincar.

JdeB - Quando o pai convidava, ia com gosto ou se queixava pra mãe?

Elóis - Não, eu ia com gosto. Se o pai não me convidasse pra ir junto, eu ficava chateado, chorava; queria ir pro sítio.

JdeB - Quando começou a estudar, o que pensou em ser na vida?

Elóis - A gente vai mudando os pensamentos. Uma época eu pensava em entrar pra carreira policial, investigação... Depois, quando eu conheci mesmo as profissões, em certa fase da juventude, comecei a pensar em ser advogado e acabei fazendo. Fiz Administração de Empresas e depois consegui fazer o curso de Direito. Cheguei a trabalhar num escritório de advocacia com meu irmão, mas optei pelo serviço público. Essas profissões mais ligadas à área rural, na verdade, nunca me atraíram, mesmo como veterinário, zootecnia, agronomia, embora eu gostasse, não era tanto assim pra eu dedicar o dia a dia. Acho que, como na minha infância o campo era mais como lazer do que vida diária, talvez isso que tenha me deixado sempre essa visão um pouco mais de lazer da área campeira. E na profissão optei por serviços mais burocráticos.

JdeB - Como é que foi parar em Guaíra?

Elóis - De Laranjeiras do Sul, meu irmão morava em São Paulo, e eu fui morar com ele. Fiz o serviço militar lá (oficial da reserva). Depois eu voltei, acabei entrando na Copel na construção da usina de Salto Osório, e ali me casei. Aí meu irmão resolveu voltar de São Paulo para Curitiba e abrir um escritório de advocacia. Saí da Copel, passei pra Eletrosul. Da Eletrosul fui trabalhar com meu irmão, pra estudar, porque depois de tudo eu interrompi os meus estudos, casei cedo, com 21 anos, mas depois eu voltei, pude fazer as duas faculdades e fui trabalhar com ele. Trabalhei por uns 10 anos. Mas tinha uns amigos que viviam fazendo cursos, colegas de faculdade que achavam que era bom porque o serviço público daria, como dá, uma estabilidade, sem problema a não ser falta grave pra casos de demissões, e o salário. Eu entrei na conversa de um amigo e acabamos fazendo um cursinho pra Receita Federal. Concorria com as vagas de cada localidade. Guaíra tinha 18 vagas e nós analisamos o percentual de inscritos e achamos que teríamos chance de passar e aí optamos por nos inscrever. Foi por isso que eu entrei em Guaíra.

JdeB - Após quatro anos em Guaíra, veio pra Beltrão?

Elóis - Vim pra Francisco Beltrão, assumi e fui ficando. A comunidade me acolheu bem, principalmente os tradicionalistas, porque eu tinha sido patrão do CTG em Guaíra, eu tinha essa referência e já os gaúchos me convidaram, o Chico Comunello foi na Receita Federal e me convidou pra participar, ir num baile. E os filhos quiseram participar das danças da invernada folclórica, eu não queria porque tinha trabalhado três anos no CTG em Guaíra, estava cansado, e no CTG tem que pegar mesmo no serviço pesado porque, senão a coisa não funciona. Aqui eu queria folga de CTG, mas como os filhos resolveram participar, eu e minha esposa fomos atrás, nos associamos e não tinha um ano que eu estava em Beltrão, eu já fui eleito patrão do CTG. A convivência com o povo de Beltrão, mesmo fora do tradicionalismo gaúcho, foi uma convivência amigável que eu pude conciliar a minha responsabilidade no serviço público com essa vida que eu sempre gostei de ter, sem que uma coisa prejudicasse a outra. Fui ficando, fazendo amigos, quando me dei conta, a minha filha tinha ido estudar em Ponta Grossa, aí eu já pensei 'vou batalhar uma transferência pra Ponta Grossa, ficar junto com a filha'. Mas também fui adiando e depois o meu filho foi pra Curitiba e balançou 'Curitiba ou Ponta Grossa?'. Nessa indecisão, eu fui ficando até que decidi: não vou mais sair de Beltrão. Passados uns oito anos que eu estava em Beltrão, e decidimos, eu e minha esposa, falamos pros filhos 'ó, vocês vão pra onde vocês quiserem, fazer a vida de vocês, se vocês quiserem voltar, o pai vai ficar em Beltrão'. E aí se passaram os 21 anos na cidade.

JdeB - Como o senhor recebia aquelas convocações pra ficar alguns tempos em outras cidades?

Elóis - É, logo que cheguei em Francisco Beltrão abriu uma convocação pra treinamento pra participar da corregedoria da Receita Federal na jurisdição da Delegacia da Receita Federal em Cascavel. Tinha três advogados de formação, eu era um deles, e tinha mais dois em Cascavel, mas os outros dois já não tiveram interesse em fazer esse treinamento. Fiz o treinamento em João Pessoa pra processos disciplinais, sindicância, e comecei a participar dos trabalhos da corregedoria. Onde há problemas disciplinares, corrupção, suspeita de corrupção, roubo, peculato, enfim, vários problemas que ferem as normas do serviço público, existe a necessidade de fazer a apuração administrativa para daí aplicar penalidade administrativa, pode ser advertência, suspensão ou demissão. Tem que ter um processo disciplinar, uma sindicância, apurar a responsabilidade ou não do servidor público e, apurando a responsabilidade, aplicar a pena, ou então inocentá-lo e arquivar o processo. Desse tipo de processo que eu comecei a participar. Participei em Cascavel, Foz do Iguaçu, Guaíra, Itajaí e Curitiba. Eram as convocações que eu tinha pra trabalhar e também outros trabalhos na atividade aduaneira, participando de repressões pra coibir o contrabando e descaminho. Essas eram as razões do meu deslocamento. Porém, nesses 21 anos, eu sempre permaneci como chefe da agência, em meus afastamentos pra esses trabalhos, assume automaticamente o meu substituto, que é o atual agente da receita, o Neide Parizotto. Eu retornava e reassumia naturalmente. O mais difícil foi em 99, que eu fiquei um ano e meio participando desses processos da corregedoria no porto de Itajaí. Nós trabalhamos um total de seis processos, problemas sérios que aconteceram lá. E eu coloquei à disposição a minha função gratificada de agente da Receita em Francisco Beltrão para o meu chefe colocar outro no meu lugar, porque eu estava com um trabalho de responsabilidade, não queria largar, queria ir até o fim. Aí ele convidou o Neide pra assumir e o Neide disse 'não, se achar que dá pra ir levando assim, eu vou tocando como substituto'. Na época, até algumas pessoas acharam que eu não era mais o chefe, que era o Neide, mas foi uma questão interna, devagarinho foi esclarecendo.

JdeB - E as reclamações das pessoas inadimplentes com a Receita, como são?

Elóis - Os problemas acontecem quando as pessoas deixam de recolher impostos, sonegam e, na minha visão pessoal, fazem isso sem se dar conta do montante financeiro que representa. Quando a Receita Federal, através de fiscalização, detecta e faz um lançamento cobrando aquele imposto que foi sonegado, ou que foi deixado de recolher simplesmente por inadimplência, e lança acrescido de multas e juros, a pessoa se assusta pelo montante que aquilo assume e as taxas estão na legislação, é cobrado Selic, multa de 20%, 75% com redução, a pessoa não fez as contas quando deixou de recolher e aí, de fato, traz problemas porque alguns estavam despreparados para aquele choque. Aí querem uma solução que não está prevista na legislação, procuram meios até abusivos pra tentar resolver o problema com propostas até levianas. E problemas administrativos, de poder atender demandas de serviço, épocas em que a gente tinha que receber a declaração de imposto de renda entregue em formulário de papel, que a gente tinha que fazer plantão até a meia-noite do último dia de prazo pra receber milhares de declarações. Claro, às vezes a gente saía da Receita Federal com problema na cabeça, pensando como vai resolver, mas a solução vai acontecer com o apoio também da delegacia em Cascavel. Enfim, não vou dizer que ser responsável pela agência em Beltrão tenha sido só um mar de rosas, tivemos problemas muito sérios.

JdeB - Teve ameaças daquelas de fazer perder o sono ou não?

Elóis - Aquelas de fazer perder o sono, por telefone, pessoas ameaçando até dar cabo da nossa vida, isso aconteceu. Mas como filho de gaúcho e gaúcho por opção, a gente procurou as vias legais pra tomar as providências e, graças a Deus, nunca aconteceu nada. Pessoas que, com raiva da situação, batendo na mesa, querendo que a gente resolvesse o problema, mas é um problema que ela deixou acontecer, se não fôssemos nós, estariam outras pessoas ali tentando cumprir o seu dever, que é cuidar da arrecadação de tributos federais. Em síntese é isso, e a profissão de arrecadador de impostos, uma das mais antigas do mundo, tanto quanto a prostituição, ela é sempre mal vista pelo povo de modo geral. Essa questão de segurança, quando necessário, graças a Deus foram poucas vezes, mas a gente sempre teve o apoio da polícia aqui, chegamos a chamar pra conter algumas pessoas, até por motivo de embriaguez, que às vezes extrapolavam na tentativa de exigir um direito na visão deles, que não existia, mas que entendiam que tinham e, embriagados, tumultuavam um pouco o expediente.

JdeB - Os problemas de arrecadação são típicos de Beltrão ou são gerais no Brasil?

Elóis - Não, são gerais no Brasil, existem em todos os lugares. Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, os problemas são os mesmos, o ser humano tem uma característica parecida em qualquer lugar.

JdeB - Não é nem raça, todas elas têm os bons pagadores e aqueles que se complicam?

Elóis - Sim. Não é o perfil de uma pessoa, de uma região, de uma raça, de uma categoria social; não, existem pessoas de todas as classes econômicas que têm os mesmos problemas. Eu digo o seguinte: se a pessoa pretende sonegar, se pretende deixar de recolher por uma razão que entende ser necessário, às vezes uma empresa pretende fazer investimentos de estoque ou ampliação de sua estrutura física, e atrasa impostos, então sonega, agora, faça as contas pra depois saber se um órgão de fiscalização fizer o lançamento, pra que não seja pego de surpresa, ele vai saber 'bom, estão me cobrando R$ 100 mil, R$ 100 mil reais foi essa ampliação que eu fiz na minha empresa, ou o sítio que eu comprei, ou o carro e tal', e tudo bem, porque o dinheiro está em algum lugar, a empresa só paga o imposto se teve o faturamento. A regra básica é essa: ninguém vai pagar um imposto se não tiver um rendimento pra isso. Se houve o desvio de finalidade do dinheiro do imposto, logo poderá ser cobrado e o empresário, consciente disso, vai fazer o parcelamento, vai pagar, vai vender uma coisinha que possa se desfazer para resolver o imposto. Essa é uma situação, existem outras situações — e cada vez existe menos isso — de erros contábeis, erros de lançamento, erros de apuração. Cada vez mais a classe contábil e de advogados tributaristas está melhor preparada pra dar assessoria ao empresário e evitar esse tipo de situação, por equívoco de escrituração ou de apuração. Hoje já é difícil acontecer.

JdeB - Hoje circula bem mais dinheiro do que quando o senhor veio pra cá, 21 anos atrás, e a proporção dos problemas de sonegação continua igual ou melhorou o sistema de arrecadação?

Elóis - O que aconteceu foi a grande mudança da informatização. Quando eu cheguei em Francisco Beltrão, estava numa transição, nós recebemos os primeiros computadores na inspetoria da Receita Federal em Guaíra e eu não cheguei a trabalhar, estavam instalando os computadores, naquilo fui transferido pra Francisco Beltrão e aqui também estavam instalando.

JdeB - Aprendeu aqui em Beltrão?

Elóis - Foi aqui em Beltrão que eu aprendi, de fato aprendi informática dentro da Receita. Chegaram os computadores, deram os treinamentos, a gente foi aprendendo. Foi em 91, a Receita soltou o programa da declaração de imposto de renda já em disquete, aquele disquete bolachão, grande, do tamanho de um CD hoje. Naqueles disquetes vieram os primeiros programas da declaração de imposto de renda, mas continuou por muitos anos ainda a possibilidade de entregar a declaração formulada em papel. A mudança se deve à informatização da Receita Federal. Ela é uma instituição que recebeu muitos prêmios, até internacionais, em reconhecimento à inovação e à vanguarda na informatização desses serviços. Principalmente na declaração, foi o carro-chefe desde aquele momento, ela começou a informatizar tudo o que foi possível. A partir do momento que a Receita informatizou razoavelmente bem, 10, 12 anos atrás, surgiu a possibilidade de cruzamento de dados, num primeiro momento dentro da própria Receita Federal. Existem vários bancos de dados que não se conversavam, tinha que se falar fisicamente, pegar listagem de um pra confrontar com listagem de outro, até que se conseguiu fazer a confrontação dentro dos bancos de dados da própria Receita Federal e daí com outros órgãos também. Isso foi coibindo a sonegação e também a inadimplência. Quando cheguei em Francisco Beltrão, recebíamos listagem de devedores em papel. Se a empresa CNPJ "x" ou a pessoa CPF tal precisava de uma certidão negativa, a gente conferia a listagem de devedores, se não tinha débito, nós emitíamos manualmente uma certidão negativa. A cobrança, também, o trabalho de CPF era feito na Receita Federal. Em 91, foram feitos convênios com os bancos do Brasil e Banestado pra fazer o CPF, terceirizou-se. Todo esse trabalho foi modificando devido à informatização, a Receita se antecipando no controle da situação fiscal do contribuinte, pessoa física e pessoa jurídica, e o cruzamento de dados, tudo isso foi reduzindo a inadimplência e a sonegação, porque até a Receita Federal detectar que uma empresa deixou de recolher ou atrasou, passavam-se dois ou três anos que tinha que ser entregue a declaração de imposto de renda, processar pra ver quais os débitos apurados e aí buscar os pagamentos pra ver se teve ou não teve. A Receita criou o DCTF, uma declaração mensal que a empresa tinha que entregar, mas mesmo assim, até processar esses dados e disponibilizar pra nós termos conhecimento, é uma demanda muito grande. Um grande número de pessoas mais conscientes começou a planejar a inadimplência ou até a sonegação, 'a demora é tanta, vamos atrasar dois, três meses, mas vamos pagar porque daí chega a listagem da Receita, depois a informação já tá aí', tudo isso quanto à arrecadação na Receita Federal. Quando eu cheguei aqui, a arrecadação devia ser algo em torno de um milhão, hoje nós estamos na faixa de mais de 20 milhões mensais nos 15 municípios, entre a Receita Previdenciária e a Receita Fazendária.

JdeB - Circula bem mais dinheiro. Mas hoje está mais difícil sonegar?

Elóis - Tá mais difícil por esse cruzamento de dados, a informação hoje é imediata, a empresa recolhe hoje, dali no máximo quatro dias úteis já está no controle adequado da Receita Federal.

JdeB - Agora aposentado na Receita, o tradicionalismo continua na sua vida, e o restante do tempo como vai usar?

Elóis - Desde outubro de 2011 eu tinha atingido plenamente o direito pra aposentadoria, eu sempre pensei: já estou com 59 anos, daqui 10, 11 anos estou com 70, eu trabalhei desde 15 anos de idade, embora quatro sem registro. Eu há 43 anos batendo ponto, a não ser o período que trabalhei com meu irmão no escritório de advocacia — por uns 8, 10 anos —, aí tinha um pouco mais de liberdade, mas tinha mais responsabilidade, a vida inteira trabalhando com responsabilidade, mesmo antes do Exército. Resolvi pedir aposentadoria pra não ter aquele compromisso, horário, coisas assim, que eu tive a vida inteira. Agora eu tenho um envolvimento aí com o tradicionalismo gaúcho que me dá uma certa atividade, mas eu acho que isso não é suficiente. Neste ano, até dezembro, eu não pretendo fazer nada. Eu tenho três convites de escritório de advocacia pra eu compor a equipe, graças a Deus, e agradeço que lembraram de mim pra me convidar, são escritórios grandes em Francisco Beltrão que acharam que eu poderia contribuir com o empreendimento deles. Eu estou analisando essa possibilidade e até uma quarta possibilidade de abrir um escritório de advocacia, não vou dizer nem que sim nem que não. A partir de janeiro vamos ver se assumimos algum outro compromisso, mas diferente do que eu fiz até agora, por isso que talvez eu vá pro meu escritório mesmo, por essa questão de compromisso diário. Trabalhar eu penso que eu quero e devo trabalhar, na minha idade acho que tenho muito ainda pra fazer e vamos ver os desafios, no que vai dar isso aí.

JdeB - Quando conheceu a Laura, sua esposa?

Elóis - Eu fiz o meu segundo grau em Laranjeiras do Sul, completei aos 17 anos o curso técnico contábil, o pai já tinha vendido o comércio e aí o Getúlio (irmão advogado) me convidou pra ir pra São Paulo e eu fui. Aconteceu ali.. Eu estava na fase de alistamento militar, tinha sido dispensado e fui pra São Paulo, daí convidei o Getúlio pra tentar fazer uma faculdade, trabalhar — tudo em São Paulo, o Getúlio já era casado. Naquilo eu vi um anúncio pra fazer o CPOR, Escola de Oficiais da Reserva do Exército, tinha que ter o 2° grau, e eu já tinha, era 1971, por aí. Eu "poxa, posso fazer, posso ser oficial da reserva". Me inscrevi pro CPOR, fiz as provas, passei e fiz a escola de oficiais. Passei um ano no quartel, servi também estágio de instrução em Lorena, interior de São Paulo. Aí acabou aquele tempo, tinha que trabalhar e tentar uma faculdade. Comecei faculdade em São Paulo e trabalhar, mas a vida não era muito boa. Eu tinha uma irmã casada que trabalhava na usina em Salto Osório, o meu cunhado tinha uma relojoaria no centro comercial em Salto Osório e a minha mãe em Laranjeiras do Sul. Meu pai naquele tempo faleceu, com 57 anos. Eu vim passar um período em Laranjeiras do Sul e o meu cunhado pediu pra eu dar uma mão pra ele na relojoaria. Fiquei cuidando uma semana da relojoaria. Naquela semana eu achei a namorada, conheci a Laura e começamos namorar e eu resolvi ficar em Salto Osório. Naquele curto espaço conheci algumas pessoas, um pessoal da Copel. Entrei na Copel, no setor financeiro da usina de Salto Osório, e aí resolvi ficar, não voltei mais pra São Paulo, fiquei namorando e acabei casando novo, com 21 anos, em Salto Osório. Depois da Copel, mudei pra Eletrosul e nasceu minha filha, isso lá por 73. Em 76, eu saí a convite do Getúlio e fui trabalhar em Curitiba no escritório de advocacia. Fui casado e com a filha. Aí surgiu um colega de faculdade pra fazer concurso e fui fazer. A Laura trabalhava no laboratório do hospital da Copel em Salto Osório e a família dela era de Salto do Lontra. Casamos em Salto Osório, moramos em Curitiba, nasceu meu filho lá, daí dois filhos e tal, entrei na Receita em Guaíra. Quando surgiu o convite para vir pra Francisco Beltrão, a proximidade dos parentes da minha esposa, tanto em Salto do Lontra quanto em Francisco Beltrão. Foi por essas razões que acabei vindo pra Francisco Beltrão. A esposa continuou trabalhando em Curitiba, na área de laboratório de análises clínicas, depois em Guaíra também ela trabalhou, só em Francisco Beltrão, quando chegamos, ela resolveu abrir uma livraria, na Vila Nova, por uns três anos, depois ela resolveu vender a propriedade e ficou cuidando dos filhos. Com o decorrer do tempo, ela se aposentou, mas desde o primeiro momento que nós começamos a participar do CTG ela foi junto comigo.

JdeB - Além de esposa, o senhor encontrou nela uma companheira, principalmente pro lado social.

Elóis - Ela é uma grande companheira, me dá forças pra tudo o que eu faço no tradicionalismo gaúcho, minhas conquistas no CBTG mesmo, a Coligação Brasileira de Tradição Gaúcha, sempre me deu apoio e força e eu digo que ela é mais gaúcha que eu, porque ela é natural de Urupema e a família é daquela região de Lages, onde são muito tradicionalistas mesmo, ali era rota dos tropeiros e o tradicionalismo gaúcho é forte e ela sempre atuou muito nisso.